Livro: As Crônicas de Gelo e Fogo - Livro Três: A Tormenta de Espadas
Autor: George R.R. Martin
Editora: LeYa Brasil
Páginas: 884
Fiquei com algumas dúvidas entre resenhar A Tormenta de Espadas ou não. Se a pessoa já leu o livro, não há muita novidade no que irei dizer, e se a pessoa não leu, bem, não tem como falar sobre o 3º livro de uma saga sem mencionar spoilers, muitos spoilers. Sem falar que é dificílimo comentar os livros da saga As Crônicas de Gelo e Fogo. Acontece muita coisa e quando termino um volume eu já experimentei tantas sensações diferentes, que não tenho mais certeza de meus sentimentos por personagem X ou Y ou ainda o que aconteceu neste ou naquele volume.
Seja como for, em linhas gerais, sem spoilers ainda, A Tormenta de Espadas é enorme e demorei bem mais do que eu pretendia quando comecei a leitura. Infelizmente um livro tão grosso é difícil de carregar por aí, o que me fazia ler apenas em casa à noite (em meio aos outros afazeres da vida) ou nos finais de semana. E digo infelizmente, porque é o tipo de livro que é muito mais aproveitado quando a pessoa consegue engatar a leitura em uma sequência quase ininterrupta. O clima de pressão é bem mais fácil de digerir.
E se tem uma coisa que há neste livro, é pressão. O leitor não consegue ficar sossegado ou seguro de coisa alguma. As nossas alianças (e eu digo nossas mesmo, dos leitores) vão sendo alteradas no curso da história. É muito difícil escolher um lado da disputa e seguir firme até o fim quando você tem o privilégio de conhecer o pensamento de pelo menos um membro de cada grupo.
Também temos a chance de vermos mudanças bruscas acontecendo, algumas até imagináveis, outras tão surpreendentes que o nosso queixo cai até que paramos para analisar e faz todo o sentido do mundo e se vivêssemos naquele lugar provavelmente pensaríamos da mesma forma.
Mas, é claro, também tem aquelas situações tão explosivas que eu não resisti a ansiedade e o desespero, coloquei o livro de lado por alguns momentos e fui pesquisar por spoilers específicos que era para não morrer do coração.
Dito isso, fica a minha opinião: o livro é excelente e é difícil segurar a língua para não soltar spoilers por aí, pois a vontade de comentar a cada cena lida é gigantesca. E as teorias já começam a rodar por nossa mente...as visões começam a fazer sentido e algumas coisas que vinham sendo construídas desde o primeiro livro finalmente ganham mais corpo e objetivo prático na história como um todo.
E agora vamos aos spoilers, pois para eu poder comentar o que eu quero, preciso abrir o jogo total e completamente.
Este livro tem 10 narradores, mais um para o prólogo e outro para o epílogo, como é o costume da série. E assim como já estamos acostumados, nem sempre o personagem mais interessante tem a história mais legal de ler (não entendo bem o porquê disso, mas acontece).
A guerra está feia em Westeros e quando vemos a morte e a destruição tomando conta do país, não tem como não nos perguntarmos se realmente vale a pena essa revolta toda.
Stannis precisou voltar para casa com o rabo entre as pernas depois da derrota vergonhosa em Porto Real, mas nem por isso o único Baratheon ainda vivo desiste de sua pretensão ao trono. Ele crê de verdade que é o legítimo herdeiro ao trono e, se não fosse por sabermos de Daenerys, quem seríamos nós para contestá-lo? Joffrey é filho do incesto de Cersei e Jaime e não tem nem um pingo de sangue Baratheon, Renly era o mais novo e, de qualquer modo, está morto. Só resta Stannis. A menos, é claro, que você creia que os sete reinos devam de fato ser sete reinos e não um único país, porque neste caso Robb tem realmente todo o direito de reclamar o trono do Norte.
Só que as coisas também não vão bem para Robb. O garoto venceu toda batalha na qual lutou, mas perdeu tudo o que importava para ele. Winterfell caiu na mão de...esqueci o nome do homem que a tomou de Theon Greyjoy, mas o que interessa é que Winterfell não está mais nas mãos dos Stark, Bran e Rickon, embora nós saibamos que estão vivos, foram dados como mortos, e Robb ainda pensou com a cabeça errada e quebrou o juramento com os Frey e casou com uma ninguém (politicamente falando, é claro), perdendo todo o poderio das Gêmeas.
Do lado dos Lannisters, o sol parece brilhar mais esfuziante, no entanto Joffrey cada vez mais se mostra um tirano incontrolável e, sinceramente eu me pergunto se o avô não pensou algumas vezes em matá-lo, pois manter o poder usando o garoto como testa de ferro não é uma tarefa fácil.
O livro, no entanto, nos traz alguns acontecimentos que foram tão impactantes que não há como não comentá-los.
Jaime: o Regicida foi solto por Catelyn, que o trocou pela liberdade das duas filhas. É claro que ela fez isso sem a autorização de Robb e causou o maior tumulto, mas o que está feito está feito, não adianta chorar sobre o leite derramado. O problema é que o caminho até Porto Real é longo e a viagem de Jaime não foi nada fácil.
O lado positivo dessa jornada é que pudemos conhecer melhor o Regicida. Durante o caminho, o seu relacionamento com Brienne, a soldado que Catelyn enviou para guardar Jaime e garantir que ele chegasse em segurança e cumprisse a sua parte do acordo, serviu para que víssemos um lado do Lannister que não conhecíamos. Até agora ele era mostrado apenas como o vira-casaca que matou o rei Targaryen, foi encontrado por Ned Stark sentado no trono, e que tinha um relacionamento com a irmã, o que o levou a jogar Bran lá de cima da torre. Mas Jaime não é apenas isso. É claro, esta é sim uma das facetas do Regicida, mas ele é também um homem de mais honra do que se pode imaginar. A morte do Targaryen não foi por sede de poder, mas por necessidade - muito legal as histórias que ele conta de como era Aerys e Rhaegar, inclusive qual a sua visão de Ned Stark.
Outra coisa que me chamou a atenção é de como Jaime realmente ama Cersei. Ele deixaria tudo por ela, aliás, ele deixou tudo por ela. Jaime enfrentaria o mundo se a irmã decidisse assumir o relacionamento entre eles. Posso estar enganada, mas pelo que compreendi, Cersei foi a única mulher da vida de Jaime, ele simplesmente não quer nenhuma outra (bem diferente da rainha, que usa e abusa da sexualidade). Chega a doer um pouco vermos todo esse amor do Lannister por uma mulher tão egoísta quanto Cersei.
Achei bastante corajoso da parte do autor decepar a mão direito de Jaime. Não porque humanizou o personagem (não era necessário isso, pois todo o resto já nos dava um vislumbre de quem ele é), mas porque isso é uma guerra e nas guerras coisas ruins acontecem, inclusive os chefes da guarda ficam manetas.
Arya: Meus sentimentos por Arya são conflitantes. Eu gosto da garota, ela tem passado o inferno e visto coisas que uma menina de 9 anos não deveria ser obrigada a ver, mas algumas vezes ela é tão teimosa e sedenta de sangue que me tira do sério. E não consegue enxergar um palmo diante do nariz, tão fixada está na forma como vê algumas situações. Se bem que se nos colocarmos no lugar dela, a menina viu o pai perder a cabeça, soube da morte dos irmãos, matou para sobreviver e para se vingar...isso muda completamente uma pessoa. Mas fico animada com o que acontece no final do livro. O que dará desse seu pedido de ajuda usando a moeda de Jaqen?
Sansa (e Tyrion): Eis uma menina que comecei odiando e atualmente é a minha Stark preferida. Adoro Sansa. Ela se mostrou muito mais forte do que se podia imaginar no meio dos leões Lannister. E o destino dela....quase enfartei quando decidiram casá-la com Tyrion. Eu amo Tyrion, mas fico só imaginando como ela deve ter se sentido.
E Tyrion mostrou-se o melhor dos maridos, o que, inclusive, era o que se poderia esperar dele. Juro que fiquei penalizada pelo anão. Eis um personagem que só perdeu nesta vida, e sinceramente o que faz ao pai no final foi merecido, embora seja difícil aceitar a ideia de um filho matando o pai.
Por outro lado, a morte de Joffrey foi um presente para o leitor. Mas afinal, ele matou ou não o sobrinho? Toda a conversa de Sansa com Mindinho no final me deixou meio confusa.
Mindinho foi outro que me surpreendeu. Que ele tinha uma queda por Sansa (cópia da mãe, por quem ele era apaixonado) todo mundo sabia, mas não imaginava que ele chegaria ao ponto de matar Lysa, que o amava com loucura desde a adolescência.
Também gostei de saber que, afinal, foi Joffrey quem mandou matar Bran. No final das contas, Joffrey foi o verdadeiro responsável pela guerra que se travou, quem diria.
Agora as coisas estão assim...Sansa desaparecida, todos creem que ajudou Tyrion a matar o rei Joffrey, e tem se escondido como filha ilegítima de Mindinho (que havia casado com Lysa, é o seu viúvo e atual responsável pelas terras e, surpresa, foi o verdadeiro responsável pela morte de John Arryn, quem diria!)
Robb e Cat: Casamento Sangrento, isso é tudo o que eu tenho a dizer. Não esperava por essa, não esperava mesmo. Fiquei horrorizada quando li. Não podia acreditar que os Frey tinham matado Robb, Vento Cinzento e Catelyn. E Arya ali, tão perto da mãe e do irmão e nem sequer pode vê-los uma última vez antes de serem dilacerados. Acho que meu choque foi ainda maior do que na morte de Ned. Mas o que realmente é de deixar todos de cabelo arrepiado é a última cena do livro, quando descobrimos que Cat foi trazida de volta à vida.
Essa disputa entre o deus do Fogo e o deus dos Outros está ficando cada vez mais interessante.
Jon Snow: Jon quase me matou do coração algumas vezes. A história prá lá da Muralha é talvez a mais interessante do livro. Eu sofri com Jon fazendo-se passar por um dos selvagens, com seu relacionamento com Ygritte (não o relacionamento em si, mas seu medo de se entregar, a falta de força enfim, e a morte da garota), mas principalmente por ver como alguns o trataram como um traidor quando retornou para a Muralha. E o final....oh....como ficarão as coisas agora?
E por falar em coisas, elas não vão bem lá no Norte. Mais cedo ou mais tarde os Outros passarão a Muralha e eu creio que é para este ponto que a história se encaminha. Espero que até lá Daenerys já esteja de volta a Westeros, com seus três Dragões, pronta para colocar um fim nesses mortos-vivos. Esse negócio de zumbi não é comigo....gostaria de saber como eles são feitos e qual o propósito.
Daenerys: Como sempre, não há muito o que falar sobre Danny. Cada dia fica mais evidente que ela é a pessoa que colocará ordem em Westeros (creio eu, com a ajuda de Jon Snow), mas para isso precisa criar o seu exército e acho que está trilhando um bom caminho (de morte e destruição, mas qual conquistador não deixa os derrotados pelo caminho?). Também acho acertada a sua decisão de parar por um tempo e reinar, porque precisa aprender a ser uma Rainha e não apenas a Khaleesi de seu khalasar.
E era certo que Sor Jorah era o traidor, mas fiquei de coração partido, assim como ela, pois acredito de verdade que Mormont queria o bem de Daenerys e estaria sempre ao seu lado, apesar dos pesares (uma eterna romântica, esta sou eu).
E quem diria que Sor Baristan iria em busca de Dany para jurar a ela a sua espada? Nada mais justo, visto ser ele um dos cavalheiros mais honrados que tinha em Westeros.
Agora resta-me ler os próximos livros da saga. Felizmente já tenho O Festim dos Corvos comigo, mas queria ter um pouco mais de tempo livre para conseguir pegar o livro e não o soltar até acabar a leitura. Vamos ver o que o futuro nos reserva.
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PS: Estou sem os livros comigo, então pode ser que tenha escrito algum nome errado e por isso peço que me perdoem. Se alguém der um toque, eu os corrijo.
10 comentários:
Cara esse livro é mesmo de tirar o folêgo. Mas não concordo que a Dany seja a pessoa certa para botar ordem em Westeros. Pra mim ela é uma conquistadora e não uma governante. Mas também não sei quem seria a pessoa certa, todos tem alguns defeitos importantes. Talvez o Jon, mas como você vai ver nos próximos livros ele também tem alguns problemas que precisa superar pra ser um bom governante.
Bom, pelo menos Dany tem legitimidade ao trono, coisa que nenhum outro o tem.
Não sei como ela seria como governante, porque até agora não a vi governando, só tentando sobreviver e conquistando os povos. Mas não dá para deixar de pensar que ela é uma jovem de 14, 15 anos e que ainda tem muito o que aprender.
Estou curiosa com os próximos livros. Espero que até eu terminar o 5º o autor já tenha lançado o 6º :D
Gente tudo depende do ponto de vista. Como é dito sempre, são sete reinos e antes dos targarian existiam mais de um rei. Todos foram unificados a partir da força, ou melhor, dos dragões, ou seja, direito por direito ninguém tem. O que prevalece segundo os livros é a força mediante a um bom ou mau motivo.
Ass: Eduardo
Legitimidade? Aegon, o Conquistador tomou os sete reinos com mãos de ferro. Não foi pq é de direito. Eu acredito hoje numa batalha complicadíssima com os Outros, mas não acredito na manutenção de um só reino... Esse foi o problema no começo e parece ser agora. Mesmo com dragões Dany pode vir a ter problemas para conquistar Westeros, lembrem-se Dorne nunca se curvou ao rei Dragão.
Os dragões garantiram a unificação pela força; lutando com alguns( reis da tempesdade, reis do rio, reis da campina), recebendo fidelidade de outros( rei do norte, Lannisters) e só Dorne conseguiu manter-se independente até um dos reis dragão que casou com a princesa de Dorne.
Nunca lembro da existência de Dorne...
Sim, antes dos Targaryen cada reino tinha o seu próprio governante, por isso, se quiserem partir para o que era correto mesmo, cada um teria que ter novamente. Mas acho que os Sete Reinos foram um só (Westeros) por um tempo longo o suficiente para considerar os Targaryen como seus legítimos governantes, principalmente se pensarmos que terra alguma (no livro ou na vida real) iniciou com o seu governante e suas dividas de origem. O início é sempre uma coisa confusa e depois é que as coisas vão se unificando sob a direção de uma pessoa ou pensamento.
Eu vejo Daenerys como a que tem maior legitimidade ao trono, mesmo porque a maioria das famílias originais dos sete reinos já se foram.
Mas....é como eu disse, ainda não li o 4º nem o 5º livro, então não sei o que realmente eu quero para Westeros.
Ops...por 'dividas' leia-se 'divisas' de origem.
Já estou lendo o 4º livro, porem ainda estou no início..de qualquer forma o caminho que até agora se torna cada vez mais misticos. Forças que até então estavam adormecidas surgem a cada momento e outros desconhecidas também surgem, outros, dragões, feiticeiros, piromantes, homens sem face, represeiros falantes, gigantes, armas mágicas...em fim o arsenal ta enorme. Personagens novos muito interessantes surgem, fora que podemos observa mudanças em antigos, assim passamos a amar os odiados anteriormente e a odiar uns que eram amados. Em minha visão o quinto livro será um prelúdio que dará inicio a uma guerra a ser descrita no livro 6 e 7 que vai devastar Westeros e até mesmos as cidades livres
Ass: Eduardo
Sério que vocês não souberam sobre a verdadeira identidade de Jon Snow? Mesmo depois de ter acabado o livro 3?!
tem uma teoria sobre quem são os verdadeiros pais de Jon Snow... o que seria uma revelação e tanto! mas por enquanto são só fofocas. Juro que não vi nada no livro 3 que confirmasse isso ou desse alguma pista.
Dany e seus dragões contra os Outros... isso seria um final apoteótico para a série! Não tinha pensado nisso, mas gostei da ideia.
Terminei o livro 3 esta semana, na minha opinião foi o melhor até agora. Ainda estou ruminando tudo o que li, vou dar um tempo antes de começar o 4.
E uma vida longa e próspera ao tio George, para ele terminar essa série como planejado! :-)
Eu já li o quinto livro e vocês não perdem por esperar. Sansa também é uma das minhas preferidas mas ela ainda vai se dar muito mal no quarto livro. Danny não vai ganhar.... ainda não foi confirmado, mas eu tenho quase certeza, ela está começando a fazer besteira igual ao Robb. Eu acho que quem vai ganhar essa guerra vai ser o Rickon Stark (ele sumiu muito de repente). SPOILER (QUEM NÃO LEU O LIVRO 5, NÃO LEIA ISSO) O Jon morre ou não? Como o quinto livro acaba e deixa agente na curiosidade? Tipo, quando ele levou a primeira facada eu pensei que tudo bem afinal, era só uma facada. Mas depois da quarta eu já não tinha mais essa certeza.
Ass: Heloísa
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