Série: Doctor Who
Episodio: A Town Called Mercy
Temporada: 7ª
Nº do episódio: 7x03
Data de
Exibição: 15/09/2012
Roteiro: Toby
Whithouse
Direção: Saul
Metzstein
Depois de uma
semana fraca – na minha quase singular opinião – Doctor Who nos apresentou um episódio
delicioso de assistir. Não sem defeitos, mas ainda assim prazeroso do início ao
fim.
Esse terceiro
episódio passou-se no velho oeste americano e, para interpretar o Xerife de
Mercy (81 habitantes), quem melhor do que Ben Browder, americano até os ossos?
E não posso negar que ele ficou muito bem com aquele bigodão e jeitão bruto do
oeste selvagem. Uma pena que foi uma participação de um episódio só. Seria
ótimo ter Ben Browder em Doctor Who mais vezes.
Gostei do
desenrolar dos acontecimentos, gostei da música, da fotografia, de toda a
discussão sobre a natureza do Doutor, do paralelo entre ele e Jex... Tirando a
tristeza de ver Rory sendo tão pouco utilizado, e Amy sendo a voz da razão do
Doutor (enquanto Rory fazia exatamente o contrário, o que, frise-se, é muito
fora do seu personagem), simplesmente não senti o tempo passar.
Há 3 coisas que
não há como deixar de lado:
2) novamente o
episódio chamou atenção para a eletricidade, o piscar de luzes, a vibração de
uma lâmpada acesa. Assim como o Natal, a
luz também teve seu espaço em cada episódio. Coincidência? Pode ser, mas eu
acredito mais na sutileza da cadeia de acontecimentos que Moffat está criando
para a saída dos Ponds.
3) A idade do
Doutor. Soa estranho se eu disser que, entre toda a discussão sobre o Doutor
estar perdendo a humanidade, estar sozinho tempo demais etc, o que realmente
chamou a minha atenção foi ele estar atualmente com 1200 anos? Ele já conhece
Amy e Rory há mais ou menos 300 anos. De fato é um longo tempo, mas não consigo
acreditar que ele esteve ‘sozinho’ por todos esses anos. O episódio passado
menciona que ele teve suas aventuras com Nefertiti, com Riddell e com certeza
houve outros no meio do caminho. Sim, ele sempre volta para Amy e Rory (e de
preferência de forma cronológica, embora nem sempre acerte, como vimos no Ponds
Life), mas a verdade é que ele já viveu bem mais tempo longe deles (enquanto
ainda na vida do casal) do que próximo aos dois.
A propósito, será
que nesses muitos anos sozinho (ele morreu/casou quando tinha 1103, é isso?
Então não chega a estar 100 anos longe dos Ponds) o Doutor encontrou River? Oh,
eu sei que ela não teve nada a ver com o episódio (embora tenha sido sutilmente
mencionada na conversa de Amy com Jex, que apesar de muito bonita, foi absurda.
Quem é que descobre que alguém é mãe só por um olhar? Como se pessoas sem
filhos não pudessem ter a mesma compaixão, tristeza e força no olhar), mas eu
não posso deixar de especular o que acontece com o Doutor quando ele está sem o
casal por perto.
Seja como for, a
minha dúvida é se ele tem estado de fato muito sozinho ou se tem viajado com
parceiros diferentes aqui e acolá. Acho muito mais provável o Doutor ir se
atolando em raiva e culpa por vir falhando com as pessoas que escolhe acolher,
do que se tornar frio e indiferente por não se apegar. Ele deixa bem claro que
sente que tudo o que toca é destruído por conta da sua misericórdia. É
justamente o seu excesso de zelo e carinho que provoca as destruições em massa
e não a sua solidão contemplativa e aventuresca.
Outra coisa que
anda despertando furor mundo afora é a cronologia dos episódios. Em Ponds Life
o Doutor aparece de repente na vida do casal e anuncia que veio fora da época,
que algo grande ainda virá. Então tivemos Asylum of the Daleks, onde o casal
estava separado e conhecemos Oswin (e era Natal!). No entanto, no episódio
seguinte, tudo estava lindo e maravilhoso entre Amy e Rory, como se nada
tivesse acontecido entre eles. Já em A Town Called Mercy havia uma tensão
palpável entre os dois. Tudo o que vemos agora é anterior a Asylum? Anterior
para nós e posterior para o Doutor? Ou anterior para todos? Ou nenhuma das
alternativas e todos os acontecimentos estão rigorosamente na cronologia certa?
E nessas andanças de dezenas de anos o Doutor já viu o final dos Ponds e,
talvez seja este o motivo de sua fúria muito mais palpável ultimamente?
Mas deixando
essas divagações de lado, vamos falar do episódio. Eu gosto muito de Toby
Whithouse (acho que mais por Being Human do que por Doctor Who) e não me
decepcionei com o seu roteiro. Ele costuma traçar bons paralelos entre os
acontecimentos de Doctor Who e a vida real. Alguns bem sutis, enquanto outros
são bem óbvios (como Kahler-Jex ser um cientista responsável por experimentos
em seres vivos na guerra e que recebeu asilo em outro local por trazer
benefícios tecnológicos ao seu novo lar).
A história do
episódio em si é simples, mas eficiente. A TARDIS mais uma vez desviou do seu
destino (se por vontade própria ou devido ao descuido de Rory não importa) e os
viajantes acabaram no oeste americano, diante da pequena (e põe pequena nisso)
Mercy. Foi bem legal a chegada dos três à cidade, a forma como ultrapassam a
barreira imposta pelo Pistoleiro e, principalmente, a entrada no bar.
Chegando lá,
mais uma vez se viram num emaranhado de acontecimentos para o qual foram
tragados pelo simples título do Doutor.
“Por que alguém
iria querer te matar?....A menos que te conhecesse?”
Achei legal que a cidade estivesse defendendo
Khaler-Jex e como Isaac o considerava seu amigo a ponto de dar a vida por ele.
A atitude de Jex não foi exatamente a melhor possível, já que estava disposto a
sacrificar uma cidade inteira para permanecer vivo, mas eu acredito firmemente
que as pessoas tem direito a uma segunda chance na vida.
O interessante é
que, enquanto Jex encontrou naquele povo um coração aberto para recebê-lo e
perdoá-lo por seus crimes de guerra, o Doutor ainda hoje, passados mais de 300
anos, ainda se culpa profundamente pelo extermínio de sua raça (e deve ser
ainda pior porque os Time Lords ficaram lá, suspensos no tempo enquanto os
Daleks continuam por aí infernizando a vida de todo mundo).
É sempre bom
fazermos uma imersão na consciência do Doutor e percebermos o quão rica é a sua
personalidade. As pessoas tendem a achar que o Doutor sempre tem que agir de
uma ou outra maneira, que precisa ser o pacifista, a misericórdia em pessoa,
mas esquecem que há muito mais entranhado naquela alma do que nós conhecemos ou
conseguimos enxergar. Volta e meia ele nos mostra um pedacinho de quem ele é,
mas a bem da verdade é que mal começamos a arranhar a superfície dos
sentimentos do Doutor. Ao contrário de muitos, eu gosto quando temos a
oportunidade de vermos que ele é muito mais do que um livro aberto e já
decifrado.
Mas nem tudo
foram flores. A Town Called Mercy pecou em algumas coisas.
- Já mencionei,
mas não custa repetir: a participação de Rory e Amy foi tão superficial que não
faria a menor diferença se não estivessem ali. Tudo bem, Amy agiu como a voz da
consciência, mas qualquer outro habitante de Mercy, o próprio Isaac, inclusive,
poderia ter usado algumas boas frases de efeito e conseguido o mesmo resultado.
- O tiro em
Isaac foi absurdo. Só aconteceu mesmo para colocar o Doutor como Xerife da
cidade (e fazer o Doutor decidir ajudar Jex, afinal, Isaac não poderia morrer
em vão).
- A própria
atitude do ciborgue era irritante. Se não queria matar ninguém na cidade, que
entrasse logo, vasculhasse tudo e encontrasse Jex. Eles até poderiam não
delatar o esconderijo do (nem tão) bom doutor, mas se o ciborgue fizesse uma
busca pessoal, com certeza encontraria o inimigo e o mataria. Aliás, teve
inúmeras oportunidades sem acertar qualquer um e não o fez.
- Por que mesmo
o Doutor não pegou a TARDIS, tirou Jex de lá e salvou todo mundo? Aquele plano
mirabolante foi a coisa mais sem noção que eu já vi e ainda resultou na morte
do cientista.
E pela primeira
vez desde que me lembro (posso estar enganada), Amy e Rory se negaram a um
passeio mais longo na TARDIS e pediram para retornar para casa, e isso após a
própria Amy dizer que o Doutor estava sozinho há muito tempo. Mas deixa quieto
que é melhor.
4 comentários:
Mica, no episódio seguinte (The Power Of Three) o Doutor leva Amy e Rory para passear e eles passam pela corte do Rei Luiz XVII, com quem Amy se casa (por acidente)
Rory cita, neste episódio, que esqueceu o carregador de celular lá. E se você notar as roupas, são as mesmas.
E em seguida eles voltam para The Power Of Three sete meses após terem saido.
ESSE EPISODIO MERCY SE PASSA DURANTE o episodio The Power Of Three!!!
Sua teoria da cronologia altera está portanto, correta!
Parece então que o Doutor está indo pra trás no tempo até o Natal (e terminando no Asylum) porque está se despedindo dos Ponds, com vistas no que vai acontecer no episodio em Manhattan!!!
Amy diz, em Power Of Three, que já viaja a DEZ ANOS com o Doutor. E ele está a pelo menos 300 com eles, e com River. E pelos websodes ano passado (Last Night, First Night etc.) o Doutor parece que não dorme nada, pois são as aventuras dele (com River) durante as noites de Amy e Rory.
Se for isso mesmo, Moffat é realmente um mestre.
Beijos pra você.
Oi, concordo com o Bruno e a deterioração do relacionamento fica explícita no web episode Pond Life parte 5. Na realidade estou ansiosa para ver quando a nova companheira do doutor aparece (espero que seja uma Rose... ^^).
Parabéns pelo blogue!
@eudoras, em minha opinião a Donna foi a melhor companion do reboot do Doutor, mas River também foi muito boa (embora não fixa).
Há rumores que a participaçao de River não se encerra com Angels Take Manhattan, que vai ao ar hoje no Reuno Unido. Vamos esperar para ver.
Quanto a nova companion, Jenna Louise Coleman, se mantiver o ritmo de Asylum, será mais como Sara Jane Smith, da série classica (e do spin off The Sara Jane Adventures, que é voltado para crianças).
Mica, não vai comentar The Power Of Three? Sua teoria do tempo alterado está bem explicita, nele.
Bruno, socorro!!!! Eu mudei de emprego e a minha vida virou uma correria. Para ter uma ideia, nem ter tempo de abrir o blog eu tive.
Agora que li o que você comentou eu fiquei pensando...notei a situação do Rei Luiz e tal, mas não me toquei da roupa.
Acabei de resenhar o último episódio, mas não me ative aos detalhes (deveria ter lido o seu comentário antes), porque vi o episódio na maior emoção no sábado, mas não tive tempo de rever para fazer a resenha e como resenhei praticamente 5 dias depois, não lembrava dos detalhes.
Preciso organizar melhor o meu tempo, hehehe.
Espero mesmo que River continue a aparecer. É uma pena que a participação da River é limitada à própria atriz (afinal, Alex é maravilhosa, mas não vai rejuvenescer e permanecer na série por 10 anos), mas a personagem em si pode continuar na vida do Doutor por séculos...só que nós não a veremos, pois não tem como usarem outra atriz (o que é uma pena...nunca deveriam ter queimado o cartucho da regeneração dela em cena).
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