Série: Doctor Who
Episódio: Cold War
Temporada: 7ª
Nº do Episódio: 7x09
Data de Exibição: 13/04/2013
Roteiro: Mark Gatiss
Direção: Douglas MacKinnon
Nesse último
sábado Mark Gatiss nos presenteou com um episódio delicioso de Doctor Who.
Confesso que eu não botava muita fé na qualidade de Cold War, porque, embora
Gatiss não seja exatamente um mau escritor, os seus episódios não eram muito
empolgantes. Para os que não lembram (alguém!?), foi dele o roteiro de The
Unquiet Dead (S01), The Idiot’s Lantern (S02), Victory of the Daleks (S05) e
Night Terrors (S06). Tudo bem, não estão na (minha) lista de piores episódios
de Doctor Who, mas em todos eles faltou alguma coisa para eu achar bom de
verdade, embora sejam todos memoráveis.
Não desta vez.
Cold War teve tudo na dose certa e usou muito bem a situação onde o Doutor se
encontrava.
Os Ice Warriors
(Guerreiros do Gelo? ... Continuarei chamando de Ice Warrior por puras razões
estéticas) são velhos inimigos do Doutor (e até mesmo aliados em certa
situação) e um dos antigos vilões para os quais Moffat torcia o nariz. Segundo
ele, os guerreiros eram o típico exemplo de personagem que não funcionava
visualmente, pois tinham cara de efeito ruim e não eram lá muito intimidadores.
Resumindo: pareciam pouco mais do que um playmobil ou um lego.
Ele não estava
errado, os Ice Warriors tinham mesmo esta cara de soldadinho de chumbo que deu errado,
mas de alguma forma Moffat e Gatiss conseguiram repaginar o monstro, torná-lo
acessível e crível ao público atual, e tudo isso sem perder as características
básicas do monstro da era clássica. Para que pedir mais?
A ideia de
trazer os Ice Warriors de volta foi de Gatiss, que, ao que parece, era fã dos
monstrengos marcianos. E ele tanto fez (era, afinal, uma idéia genial e que não
dava para simplesmente descartar) que conseguiu convencer Moffat a filmar um episódio
com o vilão. E foi “só” o melhor episódio escrito por Mark Gatiss até agora.
Para quem tem
achado esta segunda parte da temporada de Doctor Who meio requentada, saiba que
você não é o único com esse pensamento. Os três episódios apresentados até
agora utilizaram velhas fórmulas (ainda que apenas um fez uso de um vilão
clássico), cenas praticamente iguais mas repaginadas e situações já vistas
anteriormente. Mas nem por isso os episódios estão ruins, muito pelo contrário.
De alguma forma esta temporada está funcionando muito bem, e o que importa
mesmo é que a comida requentada tem se mostrado bem saborosa.
O relacionamento
do Doutor com Clara também lembra muito a interação do Nono Doutor e de Rose.
Se isso é intencional ou não eu não posso afirmar, já que todo mundo sabe que
Moffat não era muito fã de Rose, em especial a Rose como é mostrada junto com o
Décimo. Mas o especial de 50 anos está às portas, então é possível que haja uma
coisinha ou outra que só conseguiremos ligar os pontos bem mais à frente.
Clara não é
deslumbrada pelo Doutor. Ela o segue, porque ele a intriga e ainda tem a
oportunidade de viver aventuras com as quais jamais ousou sonhar, mas aquela
coisa de seguir o Doutor cegamente e confiar com toda a convicção é uma coisa
que Clara não tem. A sensação que tenho ao vê-la nos episódios é de que a
garota mede as atitudes e palavras do Doutor. Ela pondera as coisas que ele faz
e analisa se deve ou não acreditar e seguir. Clara não toma uma atitude apenas
por acreditar que se o Doutor disse então deve ser isso mesmo, mas ela observa
e se chega a conclusão de que a melhor forma de agir é esta, então ela age.
Mesmo que esta atitude seja obedecê-lo e ‘esperar no lugar’ e não sair atrás
dele.
Muito boa esta
sacada, como Clara obedece à ordem de esperá-lo (porque era sim a coisa mais
sensata a fazer) e ele fica se repetindo, pois não consegue acreditar que ela
realmente aceitou assim facilmente. Tenho certeza de que quando o Nono Doutor
comentou que pelo menos por uma vez gostaria de ter um companheiro que não
ficasse zanzando por aí, ele não esperava de verdade conseguir um.
A história do
episódio é fácil de resumir: A TARDIS aporta em pleno submarino soviético
(hilária a hora que Clara descobre que está falando russo), num detour bem
característico da nave. E desde quando a TARDIS leva o Doutor para onde ele
quer? Mas sempre o leva para onde ele é necessário, e dessa vez não foi
diferente, já que o Ice Warrior tinha acabado de ser descongelado por um marinheiro
desavisado e curioso e ninguém ali fazia a menor idéia de como lidar com o
alienígena.
Gostei da tripulação
do submarino. Uma pena que Tobias Menzies foi tão pouco utilizado (gosto
muitíssimo do ator), mas pelo menos Liam Cunningham e David Warner puderam dar
um show. Warner estava particularmente interessante como o Professor crédulo e
carismático.
Foi uma ideia
interessante a de deixar Skaldak solto pelo submarino, mostrando-o pouco.
Embora a armadura em si seja intimidante (poucas mas efetivas mudanças foram
feitas em relação à armadura clássica), o inimigo nas sombras, mostrando apenas
os sons e as garras prontas para serem usadas soou bem mais perigoso. Essa aura
de perigo desapareceu um pouco quando decidiram mostrar o rosto de Skaldak, mas
o episódio compensou bem nos dando outra coisa com a qual nos preocupar: a
explosão do submarino X a bomba que deflagraria a guerra que daria fim a Terra.
Mais uma vez
Moffat nos levou para outra cena do passado, desta vez do Décimo Doutor, quando
River o encontra na Biblioteca e fala para que use o ‘Red Settings’ (‘ajuste
vermelho’!?) e ele diz que a Sonic Screwdriver não tem um red settings, e nem um
amortecer (e agora tem ambos).
O mais legal foi
ver a dúvida do Doutor. Ele se destruiria sem pensar duas vezes se isso
garantisse a continuidade da humanidade, mas o que o fazia titubear era levar
Clara com ele, quando já tinha presenciado a garota morrer duas vezes e ter
prometido que isso não aconteceria de novo. As nuances nas atitudes do Doutor é
o que há de melhor na série. Gosto de como Clara o intriga e o quão leal ele
pode ser quando quer.
Por fim Skaldak
não destrói a Terra (mais uma vez, muito bom o discurso de Clara) e é resgatado
por outros Ice Warriors que estavam por aí e ouviram o pedido de socorro que o guerreiro
acionou mais cedo. Foi um final decente para o episódio e para o personagem. Se
fosse eu teria alterado um pouquinho as motivações de Skaldak para querer
destruir a Terra (me pareceu algo meio rebelde sem causa, pura pirraça), mas
nem tudo é perfeito, nem mesmo em um ótimo episódio de Doctor Who.
Só me pergunto
como o Doutor esperava chegar no Polo Sul para se encontrar com a TARDIS (olhem
só! O Doutor usou o HADS novamente! Ele não o usava desde o Segundo Doutor, há
muito, muito tempo).
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