Série: Doctor Who
Episodio: Into the Dalek
Temporada: 8ª
Nº do episódio: 8x02
Data de
Exibição: 30/08/2014
Roteiro: Steven Moffat e Phil Ford
Direção: Ben
Wheatley
Fiz o texto na semana passada e esqueci de postar o bendito...
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O segundo
episódio da temporada chegou com uma cara de coisa requentada, embora tenha agradado
uma boa fatia do público. Eu, particularmente, lembro do episódio Dalek (6° episódio do 9° Doctor) onde o
Doctor também encontra um dalek defeituoso e solitário, aprisionado entre os
humanos, e não tem como não colocar ambos na balança e perceber o quanto Into
the Dalek sai perdendo, seja em questão de roteiro, seja em execução ou mesmo
em tensão provocada com as cenas.
Não é de hoje
que a idéia de um dalek ‘bom’ permeia o imaginário de Doctor Who e tampouco a
obstinação do Doctor em não acreditar na transformação do inimigo,
principalmente porque a essência de um dalek é não ter piedade, compaixão ou
mesmo remorso. Se ele é capaz de sentir algo além da noção de que é um ser
supremo e, como tal, deve dominar o universo, não é um dalek, é um organismo
defeituoso.
Nesse ponto até
faz sentido a ação deste episódio, já que Rusty era de fato um dalek defeituoso
e apenas por esse motivo poderia ser considerado ‘bom’. O inadmissível foi o
Doctor, sabendo disso, consertar o inimigo e ficar surpreso de Rusty voltar a
sua diretriz básica. Ora essa, se o que o fazia enxergar a beleza do mundo era
o vazamento radioativo dentro dele, não era lógico que, consertando-o esta
beleza seria suprimida novamente?
O lado positivo
foi termos a oportunidade de conhecer um pouco mais de perto a anatomia de um
dalek. Bom, mais ou menos, já que o grupo somente caminhou entre a estrutura
cibernética que recobre o corpo físico de um dalek e não adentrou o organismo
biológico propriamente dito, mas dou um desconto, porque não acredito que eles
seriam capazes de respirar sem algum tipo de equipamento apropriado se estivessem
circulando pelas veias e neurônios do dalek de verdade, e não da carapaça. Na verdade, passei boa parte do episódio
lembrando daquele filme com o Dennis Quaid, Viagem
Insólita (que passava à exaustão na Sessão da Tarde quando eu era criança)
e pensando que era muito mais legal a forma como o filme retratava a viagem
para dentro de um corpo (no caso,
humano).
Mas o melhor do
episódio foi termos daleks engajados em exterminar, vencer guerras e eliminar
ameaças. Eu gosto dos daleks, eles são os inimigos mais antigos de Doctor Who e
um dos motivos do sucesso original da série. Acho legal quando eles não são
ridicularizados ou enfraquecidos. É sempre interessante vê-los destruindo sem
dó nem piedade qualquer um que se coloque em seu caminho, e as cenas de batalha
no espaço foram surpreendentemente bem feitas para Doctor Who. Uma pena que os
roteiristas (a dupla Steven Moffat e Phil Ford) não tenham se dado ao trabalho
de localizar a história em algum ponto no tempo. Para mim, pareceu um pouco
como preguiça dos roteiristas de pensarem em que ponto da história do universo
os daleks estavam massacrando a humanidade daquele jeito e por isso deixaram
tudo vago.
Quanto à
humanidade rebelde eu não tenho muito a dizer. Achei esse elenco de apoio
incrivelmente sem sal. Eu não conseguia me importar com o destino de nenhum
deles. Tentei até o fim gostar de Journey Blue, afinal, a garota tinha acabado
de perder o irmão e tal, mas não consegui. Ela me soava como uma personagem
fraca e bem pouco útil ao desenrolar da história. Confesso que fiquei feliz do
Doctor ter rejeitado seu pedido de acompanhá-lo na TARDIS, pois eu não sei se
conseguiria agüentar a falta de carisma da garota. Embora, admito, o motivo
pelo qual o Doctor a rejeitou me soou muito estranho. Não é como se ele não
tivesse lutado/viajado ao lado de soldados em outras oportunidades e ela pelo
menos parecia ter o coração no lugar certo, por mais insípida que fosse em
cena.
Por outro lado,
uma ótima adição foi o ex-soldado Danny Pink. O rapaz não se encontrou com o
Doctor e tampouco viajou na TARDIS, mas transbordou simpatia. Foi um personagem
que foi bem trabalhado pelo roteiro, mostrando sua dificuldade em lidar com os
horrores que viu e o que fez na guerra (e talvez até mesmo fora dela), ao mesmo
tempo em que evidenciava sua timidez e reserva. Gostei bastante de suas cenas
com os alunos e até mesmo sua interação com Clara.
O único porém
que destaco é a tentativa de iniciar um relacionamento amoroso entre Clara e
Danny. Achei desnecessário e apressado. A garota o conhece e cinco minutos
depois está com olhares e sorrisos apaixonados? Um pouco de realismo, por
favor!? Eu creio que teria sido muito mais crível e interessante se a série
estabelecesse os parâmetros para uma amizade entre os dois personagens. Talvez
esta amizade pudesse evoluir para algo mais ao longo dos episódios, mas a forma
como fizeram deixou tudo muito falso e difícil de aceitar.
Uma coisa que eu
não gosto nestas últimas temporadas de Doctor Who é como os companions parecem
ser coisas avulsas. Rory e Amy tinham suas vidas fora da TARDIS depois de um
tempo e foi até interessante como experiência, mas eu não aprovo. Não gosto de
Clara usando o Doctor como hobby. Não consigo tirar da cabeça a idéia de que se
eu fosse um Time Lord que tem todo o tempo do mundo para viajar para onde eu
quiser, eu não ficaria voltando a cada três semanas (um mês, uma vez ao ano,
quem é que está contando!?) para uma garota que obviamente não tem tanto
interesse assim em viajar comigo, principalmente se eu já tivesse conhecido
várias outras pessoas, talvez até mais interessantes, nesse meio tempo.
Não sei explicar
muito bem, mas eu gosto da idéia lúdica de um companion que larga a sua vida para
correr atrás de aventuras e faz desta nova vida período integral, pelo menos
durante um tempo, quando então volta à realidade e sente-se pronto para
enfrentar o dia a dia aqui na Terra. Eu sinto falta disso. A sensação que eu
tenho é de que Clara nunca se entregou de verdade. No episódio passado eu
reclamei quando o Doctor a chama de controladora, mas de certa forma ela é.
Desde o início ela mantém o Doctor sob o seu regime. Ela o segue quando quer
seguir, contando que ele vai aparecer mais cedo ou mais tarde para levá-la dar
uma volta e ver algumas coisas interessantes, desde que isso não prejudique o
seu aqui e agora. Falta a ela a coragem de se jogar, de se lançar na aventura e
viver o sonho. Para mim é um pouco deprimente pensar em um dia a dia dando
aulas e entremeando com viagens para o espaço ou o futuro, sem um compromisso
real com o que está sendo oferecido a ela. Eu sei que é justamente isso o que
muita gente gosta em Clara, mas para mim não funciona. Era um dos motivos que
mais me incomodavam na personagem na temporada passada e, percebi, continua me
incomodando nesta.
Quanto ao Doctor
em si, cada dia eu gosto mais desta sua Décima Segunda regeneração. Algo nele
me lembra demais o Primeiro Doctor e sua falta de interesse no indivíduo
sozinho e apenas no resultado como um todo. Adorei quando ele diz que Clara é
que se preocupa por ele para que ele não tenha que se preocupar.
Sim, é um pouco
chocante quando o vemos aceitar tranquilamente a morte do soldado pelos
anticorpos do dalek, mas é totalmente condizente com o que o Doctor sempre foi.
As suas últimas regenerações é que se preocupavam demais com a forma como as
pessoas o enxergavam, ele não queria decepcioná-los e vivia sob uma máscara
constante. Agora ele está simplesmente sendo ele mesmo, embora ainda não tenha
bem certeza de quem seja na verdade. Descobriremos juntos ao longo da
temporada.
Acho válido o
seu questionamento se é um homem bom. É
uma coisa difícil de se dizer. O Doctor já passou por tanta coisa, influenciou
tanta gente e foi responsável por inúmeras mortes e destinos alterados que
depende muito do ponto de vista de quem responderá a pergunta, mas se tem uma
coisa que não há como negar é que ele sempre tenta fazer o que é melhor para os
envolvidos e isso importa no final das contas.
Não sei se eu
concordo com a afirmação do dalek de que o Doctor é um bom dalek. Há de se
pensar que, embora Rusty tenha enxergado no mais profundo do Time Lord, ele
captou todo o ódio que o Doctor mantém pelos daleks ao longo da vida. Embora algumas vezes haja de formas extremas,
e teria eliminado toda a própria raça e os daleks para trazer paz ao universo
se não tivesse encontrado uma forma melhor, a raiva e o desprezo que o Doctor
sente pelos daleks não têm como ser comparada à arrogância e falta de reciprocidade
dos próprios daleks. Rusty viu no interior do Doctor o eco do sofrimento pelo
qual o Time Lord e todo o universo passaram por conta dos daleks, e foi isso
que o levou a alterar a sua programação básica em busca da destruição da
própria raça. Rusty não se tornou um
dalek bom, ele apenas mudou o foco de sua sede por dominação, fazendo uso do
desejo sincero do Doctor de que os daleks sejam erradicados da existência.
Já o Doctor,
mesmo sendo capaz de atrocidades, sempre tenta a melhor opção, a que salvará
mais vidas e trará o equilíbrio a longo prazo. Nem sempre ele consegue, é
verdade, mas é justamente esta consciência da beleza do universo e de todos os
seres que nele habitam que o faz tolerar tantas coisas e até mesmo tentar
encontrar a bondade dentro de um dalek.
Observações:
- Missy fez mais
uma aparição no pós-vida. O mistério continua.
- Como é que o
Doctor saiu da mira das armas dos soldados rebeldes lá no início e conseguiu
entrar na TARDIS para buscar Clara? Ou eles deram permissão para ele voltar
para sua nave, desaparecer, ir sabe-se-lá onde, e voltar com uma jovenzinha
para o meio da guerra? Achei muito mal explicado isso, principalmente porque
eles o viam como um possível espião dalek.
- Adorei a forma
como o Doctor trata Journey Blue quando ela acorda dentro da TARDIS. Ele não
está nem aí para a arma dela apontada. Aquela é a sua TARDIS e ninguém o
intimida ali dentro.
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