terça-feira, 24 de agosto de 2010

Livro: A Valsa Inacabada

A Valsa Inacabada (La Valse Inachevèe)
Autora: Catherine Clément


Foram dois os motivos que me levaram a ler A valsa inacabada. O primeiro é que eu sentia que precisava mudar de ares na leitura. Acontece de tempos em tempos de eu ficar muito em cima de um mesmo tema e precisar sacudir um pouco a macieira para permitir novos frutos. O segundo motivo é muito mais prático: eu comprei a edição de bolso em uma promoção e já que o livro estava lá em casa mesmo, por que não ler o bendito?
O que eu jamais imaginaria é que eu demoraria....bem, nem sei quantos meses, perdi as contas, para terminar a leitura. Não é que o livro seja ruim, ele é apenas tedioso. Você lê, lê e então lê mais um pouquinho e tem a sensação de não ter saído do lugar. Terminei as últimas 100 páginas em duas horas, mas que pareceram seis.
A idéia da autora é interessante. Mostra a vida de Sissi, Impreratriz austro-húngara a partir de um momento peculiar em sua história: a visita a um dos bailes no Reduto, fantasiada com um dominó amarelo, onde conhece o jovem Franz que a iria marcar para o restante dos seus dias. Embora nunca tenham concretizado qualquer tipo de relacionamento carnal, os dois trocaram correspondências durante anos, sem tampouco a Imperatriz fazer conhecer a sua verdadeira identidade.
O jovem Franz é um personagem fictício, mas baseado em Frédérick Pacher de Theinburg, com quem Sissi de fato se correspondeu. Imagino que a autora tenha substituído o jovem em questão, de forma que pudesse trabalhar a história austríaca por mais de um ângulo, permitindo que conhecêssemos não apenas a nobreza e seus ideais, mas também a gente comum, aqueles que passaram por todas as transformações e turbulências de sua época.

Como romance o livro é instigante, fazendo-nos torcer por um novo encontro entre Franz e Elizabeth, apesar dos humores da Imperatriz e da grande distância existente entre eles. Mesmo assim, o livro cuida para não trazer absurdos ao leitor. Franz pode ser uma invenção, mas Sissi não o é, e a autora se esmera em não macular a vida da monarca. Alguns pensamentos aqui e acolá são introduzidos, mas Clément cuidou para não distorcer a História a seu prazer.
É prazeroso conhecer um pouco mais dessa mulher que tornou-se Imperatriz tão jovem (aos 15 anos) e que odiou o seu fardo por todos os seus dias. Mulher que foi amada pelos húngaros e odiada pelos austríacos, que deleitava-se escrevendo poemas (publicados várias décadas após sua morte) e que era amante das artes e dos esportes. Não o sei o quanto há de verdade na personalidade descrita no livro, mas a impressão que temos é a de que Sissi era uma mulher de difícil convivência, que parecia buscar a morte, mas que no fundo amava a vida. Elizabeth sofreu com o afastamento dos filhos, com o casamento com um homem que nunca amou, impôs regras para si mesmas que seriam rigorosas demais para qualquer ser humano e cujas cintura diminuta e alimentação escassa fariam inveja à qualquer modelo dos dias atuais.
A parte histórica, entretanto, é confusa e superficial, e ironicamente, a mais abundante. Para alguém que fez curso técnico no ensino médio e, portanto, não se aprofundou na história da Europa pós Idade Média, ler os acontecimentos envolvendo o Império Austro-Húngaro, a Alemanha e as circunvizinhanças simplesmente descritos, como se fossem menções em um livros didáticos (ou notas em apostilas de vestibular) não foi muito construtivo. Acabou se tornando maçante e de pouco aproveitamento. Não havia ali algum personagem a quem nos apegar, uma história a seguir além das intempéries de um Império agonizante. Eram quase dois livros distintos. Sissi, Franz e suas cartas, e a derrocada do Império, a república e o nazismo. Em tese as histórias se mesclavam, mas na prática a sensação que proporcionava era de informações compiladas e unidas sem muita paixão.
É um livro válido, interessante e até empolgante em certos momentos, mas com certeza é melhor aproveitado por quem tem um conhecimento histórico maior do que o meu e não se incomoda de ler compilados para apostilas de cursinhos pré-vestibular.

2 comentários:

Marcus disse...

Tem um filme - Sissi, a imperatriz, que nunca vi. Filme antigo, na verdade uma trilogia, com Romy Schneider. Não sei se a trilogia é baseada no livro, mas já fiquei com vontade de conhecer.

Mica disse...

Que eu saiba não, Marcus. Inclusive, é dito (na contracapa eu acho ou eu li na internet, hehe) que o filme adoça bastante a imperatriz.
Alguns consideram A Valsa Inacabada uma versão muito cínica de Sissi e distante da realidade, em especial seu relacionamento com o imperador, mas pelo que eu li por aí ela não era exatamente uma flor de candura.

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