Livro: Fallen, de Lauren Kate

Fallen

Autora: Lauren Kate

Livros juvenis são sempre uma roleta (verdade seja dita, qual livro não é?). Você pode tirar a sorte grande e ler um livro fantástico, bem escrito, com história e com personagens envolventes ou, como acontece na maioria das vezes, você sai completamente decepcionado.

Geralmente a literatura juvenil (e aqui eu me enrolo um pouco na terminologia. O que é considerado juvenil? No meu caso, falo dos livros onde o público alvo são os jovens, aquele povo que está no auge da adolescência ou praticamente saindo dela) tem uma escrita mais simples (eu falo simples e não ruim), de fácil compreensão, sem falar na fluidez e rapidez na leitura.

O grande problema é que dos autores que se propõe a escrever para este público, são poucos os que fazem um trabalho realmente bom. A maioria nivela por baixo. Escrita medíocre e histórias mal desenvolvidas, o que no final acaba sendo um desserviço para a qualidade literária dos jovens leitores.

Ou talvez não, depende do ponto de vista. Talvez ler coisa ruim seja melhor do que não ler, pois pelo menos incute o hábito e todo mundo precisa começar por algum lugar. O meu medo é que as pessoas se acostumem tanto com o medíocre que não se aventurem em águas mais profundas, por acharem-nas chatas demais. Sim, pois ler é um vício, e ler coisa ruim também.

Mas o que importa mesmo é que eu estou em uma fase meio conturbada em minha vida de leitora. Andei lendo alguns livros horríveis e outros nem tanto, mas foram poucos os realmente bons que li ultimamente. E infelizmente Fallen não foi um deles.

Não é que a autora escreva mal, ela apenas não desenvolve bem a idéia, a história e os personagens.  É um livro raso, fraco e cheio de clichês. A autora tenta manter o mistério até o final, embora seja dolorosamente óbvio desde o início quem são os personagens na verdade. A única que não tem a menor idéia do que são eles é Luce, a protagonista, que morre de amores por um ser que nem conhece direito somente porque eles supostamente tem uma história juntos.

Fallen é mais um livro de amor entre adolescentes. O tipo de amor irreal, obsessivo, doentio e improdutivo. A mocinha da vez é Luce, garota aparentemente normal, mas que desde jovem enxerga sombras ameaçadoras ao seu redor. Devido a um acidente inexplicável, um amigo é morto em um incêndio do qual ela nada lembra, o que a complica com a Justiça. Como ainda é menor, vai parar em um reformatório. Lá conhece alguns tipos estranhos, faz amizade com alguns, inimizade com outros, e é claro que se apaixona completamente por um rapaz que a despreza enquanto é o objeto de atenção de outro por quem não sente nada.

O que seria de um romance juvenil sem um triângulo amoroso, não é? De um lado está Daniel, rapaz lindo, louro e que só demonstra indiferença diante da garota. Do outro lado está Cam, igualmente lindo, moreno e que obviamente está interessado em Luce. O pior não é nem isso, mas sim o absurdo dos sentimentos da garota. A história nos quer fazer acreditar que Daniel desperta em Luce emoções que ela não consegue explicar, como se o reconhecesse sem realmente tê-lo conhecido previamente. E é por isso que ela sente por ele essa atração irresistível, obsessiva, quase doentia, já que não consegue ficar um minuto sem pensar nele.

Eu gostaria de saber que tipo de amor é esse, que não precisa ser construído, basta olhar e já cair de quatro só por reconhecê-lo de algum sonho/vida passada? Esse seu suposto amor é tão fútil e imaturo que mais irrita do que constrói.  

Mas o que realmente incomoda é que nada no livro abre espaço para surpresas. É uma história que fala de anjos caídos, lutas entre castas angélicas, maldições que ultrapassam a existência, vidas que se encontram inúmeras vezes no decorrer dos milênios e mesmo assim tudo parece mais do mesmo. A autora demora o livro inteiro para entrar no assunto do qual ele de fato se trata, tentando criar um clima de mistério que cheira a enrolação pura e simples. Sem falar que ela termina sem se aprofundar no motivo de Luce estar envolvida na maldição que recaiu sobre Daniel ou porque todos estão tão interessados nela.  Dá para imaginar, é claro, mas certeza mesmo só lendo o próximo livro, o que provavelmente não irei fazer.

Eu entendo que um livro em série precise manter ganchos e mistérios, mas esse exagerou na dose. Fallen não elucida nada, tudo é passível de discussão. Os diálogos são pífios e as explicações que os personagens dão à Luce não explicam nada (sim, porque todos sabem de tudo, menos ela e nós, embora eu acredite que nós saibamos ainda mais do que ela. Não porque temos mais informações, mas porque a garota é limitada mesmo). Sinceramente não entendo como ela permite ser manipulada e engambelada todas as vezes. Luce é uma personagem apática, que se deixa levar facilmente e cuja única característica que a define é a loucura que sente em relação a Daniel.

Se tenho curiosidade de saber como a história terminará, descobrir quem foi Luce antes de começar a voltar a viver a cada 17 anos, se realmente deve ficar com Daniel ou se o lado por quem devo torcer nesta batalha é o de Cam? É claro! Mas não o suficiente para me martirizar por outras centenas de páginas, desperdiçando um tempo precioso. Se conseguir encontrar um bom resumo do próximo livro já me será o suficiente para matar a pouca curiosidade que Fallen me deu.

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PS: Peço desculpas pela confusão que se tornou essa resenha. Comecei o texto na maior empolgação, mas o trabalho exigiu a minha atenção e quando percebi já tinha me enrolado toda e deu no que deu. Mas ficou à altura do livro resenhado...