segunda-feira, 23 de abril de 2012

Desafio Literário 2012: Confissões de Uma Máscara


Sinopse: Koo-chan vive um momento de conflito interior no Japão do entreguerras. No começo da adolescência, tem fantasias que combinam impulso sexual e violência sado-masoquista, desejo e morbidez. O rapaz chega a imaginar um ‘teatro da morte’, em que jovens lutares se enfrentariam como gladiadores exclusivamente para êxtase do próprio Koo-chan. À medida que avança na adolescência – e a Segunda Guerra Mundial se desenrola -, o rapaz tenta se interessar por mulheres. Por detrás da máscara de ‘normalidade’, porém, ele sabe que sua opção sexual não corresponde aos padrões convencionais. O protagonista empreende, aos poucos, uma viagem interior de descoberta e construção da própria identidade. 


Livro: Confissões de Uma Máscara 
Autor: Yukio Mishima
Tradutora: Jacqueline Nabeta
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 200

Havia muito que queria ler outro livro de Yukio Mishima. Minha primeira experiência com o autor foi há alguns anos, quando tive a oportunidade de ler O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar. É um livro belíssimo e forte e me deu uma impressão bastante positiva sobre ele. Tive a sensação de que Mishima não era um autor de livros fáceis e emoções rasas, mas sim alguém atormentado e que não tinha medo de colocar no papel esse turbilhão de pensamentos e dicotomias que passavam por sua alma.

Desde então quis colocar as mãos em outra obra dele, mas foi apenas ano passado que adquiri Confissões de Uma Máscara. E como um dos temas do Desafio Literário 2012 era autor oriental, pude unir o útil ao agradável.

Yukio Mishima não é o verdadeiro nome do autor. Nascido Hiraoka Kimitake, Mishima foi funcionário público antes de se dedicar exclusivamente à literatura. Mas essa vertente literária sempre fez parte de sua vida, e apenas não fez dela o seu foco principal mais cedo em virtude da não aceitação do pai.

Nascido em 1925, escreveu Confissões de Uma Máscara com cerca de 24 anos e foi o seu primeiro livro lançado. Apesar de não ser uma autobiografia explícita, a verdade é que os acontecimentos são bastante próximos de sua própria vida para que o leitor saiba que no fundo está lendo a história do autor.

E é fascinante observarmos o quão bem ele escreve. Seus escritos são profundos e um tanto melancólicos, mas sem deixar de nos mostrar um toque de sarcasmo. É possível para o leitor divertir-se mesmo nos momentos de reflexão sobre as camadas de hipocrisia – as tão citadas máscaras – que permeiam a vida do autor.

Eu, como leitora, gostei do livro do início ao fim, mas não digo que ele seja desprovido de defeitos. Por boa parte dos anos que as páginas nos fazem observar tive problemas para me identificar com o personagem. Era para mim estranho concatenar as palavras tão belamente escritas, com as atitudes e pensamentos daquele garoto. Por algum motivo, o personagem se mostrava (pelo menos para mim) fraco e um tanto tolo. Não foram poucas as vezes que me peguei pensando ‘como pode alguém que parece tão idiota escrever coisas tão profundas?’. É como se ao mostrar apenas as perversões daquela alma, o autor acabasse por esconder uma parte da própria essência do personagem. Ou talvez seja esta apenas mais uma das máscaras que ele tanto menciona.

Seja como for, depois de um determinado tempo o jovem personagem acaba se tornando mais palpável. Talvez porque ele saia apenas do campo das reflexões e análises e passe a tomar atitudes reais. Boa parte delas embebidas nesta falsidade e engano que ele construiu para a própria vida, mas mesmo assim era coisas com as quais eu podia me identificar e, por consequência, aproximavam-me mais da história.

O final foi um tanto repentino e sem quaisquer demonstrações de conclusão por parte do personagem. Ele era o que era, as máscaras que usava para aproximar-se de uma pessoa real continuaram sendo desfiadas uma após a outra e nenhuma grande mudança de fato ocorreu. 

Talvez esse vislumbre que temos da alma do autor seja o maior trunfo do livro, ao mesmo tempo que pode ser a sua maior fraqueza, já que nos joga em um cenário inacabado, a um destino incerto, onde todas as dúvidas ainda persistem e todas as farsas continuam ali, aplicadas sem dó nem piedade.


Um comentário:

Vivi disse...

‘como pode alguém que parece tão idiota escrever coisas tão profundas?' Eu ri. Bem, a resenha está tão linda que dá vontade de tascar os olhos nesse livro. Bjs!

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