Sinopse: Koo-chan vive um momento de conflito interior no Japão do entreguerras. No começo da adolescência, tem fantasias que combinam impulso sexual e violência sado-masoquista, desejo e morbidez. O rapaz chega a imaginar um ‘teatro da morte’, em que jovens lutares se enfrentariam como gladiadores exclusivamente para êxtase do próprio Koo-chan. À medida que avança na adolescência – e a Segunda Guerra Mundial se desenrola -, o rapaz tenta se interessar por mulheres. Por detrás da máscara de ‘normalidade’, porém, ele sabe que sua opção sexual não corresponde aos padrões convencionais. O protagonista empreende, aos poucos, uma viagem interior de descoberta e construção da própria identidade.
Livro: Confissões de Uma Máscara
Autor: Yukio Mishima
Tradutora: Jacqueline Nabeta
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 200
Havia muito que queria ler outro livro de Yukio Mishima. Minha primeira experiência com o autor foi há alguns anos, quando tive a oportunidade de ler O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar. É um livro belíssimo e forte e me deu uma impressão bastante positiva sobre ele. Tive a sensação de que Mishima não era um autor de livros fáceis e emoções rasas, mas sim alguém atormentado e que não tinha medo de colocar no papel esse turbilhão de pensamentos e dicotomias que passavam por sua alma.
Desde então quis colocar as mãos em outra obra dele, mas foi apenas ano passado que adquiri Confissões de Uma Máscara. E como um dos temas do Desafio Literário 2012 era autor oriental, pude unir o útil ao agradável.
Yukio Mishima não é o verdadeiro nome do autor. Nascido Hiraoka Kimitake, Mishima foi funcionário público antes de se dedicar exclusivamente à literatura. Mas essa vertente literária sempre fez parte de sua vida, e apenas não fez dela o seu foco principal mais cedo em virtude da não aceitação do pai.
Nascido em 1925, escreveu Confissões de Uma Máscara com cerca de 24 anos e foi o seu primeiro livro lançado. Apesar de não ser uma autobiografia explícita, a verdade é que os acontecimentos são bastante próximos de sua própria vida para que o leitor saiba que no fundo está lendo a história do autor.
E é fascinante observarmos o quão bem ele escreve. Seus escritos são profundos e um tanto melancólicos, mas sem deixar de nos mostrar um toque de sarcasmo. É possível para o leitor divertir-se mesmo nos momentos de reflexão sobre as camadas de hipocrisia – as tão citadas máscaras – que permeiam a vida do autor.
Seja como for, depois de um determinado tempo o jovem personagem acaba se tornando mais palpável. Talvez porque ele saia apenas do campo das reflexões e análises e passe a tomar atitudes reais. Boa parte delas embebidas nesta falsidade e engano que ele construiu para a própria vida, mas mesmo assim era coisas com as quais eu podia me identificar e, por consequência, aproximavam-me mais da história.
O final foi um tanto repentino e sem quaisquer demonstrações de conclusão por parte do personagem. Ele era o que era, as máscaras que usava para aproximar-se de uma pessoa real continuaram sendo desfiadas uma após a outra e nenhuma grande mudança de fato ocorreu.
Talvez esse vislumbre que temos da alma do autor seja o maior trunfo do livro, ao mesmo tempo que pode ser a sua maior fraqueza, já que nos joga em um cenário inacabado, a um destino incerto, onde todas as dúvidas ainda persistem e todas as farsas continuam ali, aplicadas sem dó nem piedade.
Um comentário:
‘como pode alguém que parece tão idiota escrever coisas tão profundas?' Eu ri. Bem, a resenha está tão linda que dá vontade de tascar os olhos nesse livro. Bjs!
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