domingo, 26 de janeiro de 2014

Desafio Literário do Tigre 2014: O Detetive Sentimental

No início do ano eu li um post da Simone falando sobre o Desafio Literário do Tigre. Como eu gostei muitíssimo dos temas do Desafio resolvi participar. Só que não consegui chegar a um consenso sobre quais os livros que eu colocaria na minha lista e o tempo passou sem que eu fizesse a minha inscrição. Mas isso não me impediu de ler o tema do 1° mês e aqui está a prova da leitura.

TEMA 1: NA ESTANTE.

Certo, começarei admitindo que eu roubei neste primeiro mês. Já comecei mal, fazer o quê.

De fato o  livro que escolhi eu tenho na minha estante desde 02/03/2012 (até fiz post falando quando ganhei o livro, lembram?), mas já tinha começado a ler em outros carnavais. Na verdade, acho que já tinha lido metade dele ao longo do tempo, mas como ele estava lá parado há mais de um ano, achei que se encaixaria no tema e seria uma boa chance de finalmente terminar o bendito.

Outro problema é que eu olhei a minha estante de cima abaixo e não deu vontade de ler nenhum dos títulos que estavam lá parados. Inicialmente eu tinha escolhido Sepulcro, da Kate Mosse (na estante desde 2010) mas, confesso, tentei três vezes e dormi em todas as três. Como isso não é normal quando eu leio um livro, percebi que o nosso momento ainda não havia chegado e foi assim que acabei lendo O Detetive Sentimental.

O livro é de um autor brasileiro, Tabajara Ruas, e se passa basicamente em Porto Alegre, com passagens pelo Pantanal, México e Estados Unidos. E é completamente insano, quase sem pé nem cabeça.

O autor escreve surpreendentemente bem, usa com maestria as palavras, e me conquistou com a forma como constrói as frases e mesmo a fluência como vai desenvolvendo a sua história. Acho - tenho certeza - que foi isso que me impediu de mandar o livro para o fundo da estante ad aeternum, porque os acontecimentos que ele ia descrevendo eram tão sem sentido que de outra forma eu iria me perguntar como consegui chegar até o fim. Mas como a escrita era boa, mesmo o absurdo ganhava charme e eu me via cativada pela coisa toda e querendo saber como iria terminar a saga do detetive particular Cid Espigão.

Não sei muito bem como falar sobre a história em si. Tentando colocar ordem na casa, a coisa é mais ou menos assim: o detetive Cid Espigão conhece um ricaço que estava tão bêbado que mal conseguia entrar no próprio carro e os dois acabam sendo perseguidos por uma quadrilha de mulheres carecas. Vão parar nos esgotos de Porto Alegre, onde são atacados por jacarés e depois descobrem que tudo tem a ver com uma seita secreta e que supostamente o verdadeiro pai do tal ricaço não é quem ele sempre pensou que fosse, o que leva o rapaz a contratar Cid para descobrir quem está tentando matá-lo.

Parece absurdo? É porque vocês não leram o restante. Entre viagem para o Pantanal, queda de avião, caçadores de nazistas, ex-presidentes que são agora coronéis, tribo indígena, lobisomens e outras coisas mais, o livro vai de uma loucura à outra sem te dar pausa para respirar. Mas tudo de uma forma muito envolvente, eu quase conseguia enxergar um roteiro adaptável por Quentin Tarantino! (se ele fez Kill Bill, por que não O Detetive Sentimental!?)

O final deixou um pouco a desejar. Ou, talvez, depois de tanta coisa pela qual passou o nosso detetive Espigão, nenhum final seria à altura do que já havíamos experimentado. Mas vale aqui deixar dois excertos do livro que muito chamaram a minha atenção:

"Era estranho passar os olhos pela seção policial de jornais de trinta anos atrás, de uma cidade distante, de um país distante, e ver rostos, nomes, corpos que se envolveram em paixões, em violências, que sucumbiram à cobiça e viveram sonhos desesperados e transformaram-se em fugazes notícias de jornais e agora não eram nada, nem cinza. Apenas fotografias opacas passando pelas retinas fatigadas de Cid e de Júnior".

"O México do cinema dos vizinhos do Norte era um México em festa e horror permanente, com um povo feio, mal-educado, cruel, analfabeto, traiçoeiro, servil, indisciplinado e perdedor.
Talvez seja um modo correto de ver as coisas. Talvez do outro lado do Rio Grande as coisas sejam assim mesmo.
Não tenho nada com isso.
Mas, sempre que me instalava numa poltrona na sala escura, e sempre que na tela começavam a mover-se as figuras feitas de luz, sentia incômodo mal-estar quando o herói de cabelo louro e camisa limpa, de fala macia e sorriso difícil, de beber moderado e passo elegante, começava a aniquilar como moscar o exército suado e sujo e barbudo e esfarrapado. Com essa lavagem cerebral, os garotinhos partiam para o Vietnã pensando que ia ser assim fácil. Eu vira isso tantas vezes que perdi a consciência do seu significado e guardei apenas a impressão de que as pessoas brancas - e de olhos azuis - tinham o direito de aniquilar aquela raça pululante e grotesca de bêbados. Os motivos que os impulsavam a cometer essas ações (como nos filmes de guerra contra os índios e hoje contra os árabes) eram estranhamente nebulosos, mas - sempre - ficava no ar a sugestão de que era por uma causa nobre e justa. Os motivos que moviam os barbudos e sujos mexicanos a unirem-se em armas era pura e absoluta maldade. Quando tinha algum mexicano bom - e, às vezes, tinha - era um jovem pleno de grandes olhos admirativos para o herói branco.
Geralmente acabava sacrificando-se por ele no final".

E é isso. Que venha fevereiro e o 2° tema do desafio.



Nenhum comentário:

Postar um comentário