segunda-feira, 31 de maio de 2010

Crítica: [Maligna] Wicked - The life and times of the Wicked Witch of the West


Todo mundo conhece a história do Mágico de Oz. Acredito que mais pelo filme de 1939 ( a música Over the Rainbow na voz de Judy Garland é um marco) do que pelo livro em si (embora ele também seja muito bom, apesar de ser infantil). O que eu não sabia é que The Wonderful Wizard of Oz é uma série de 14 livros escrita por L. Frank Baum e que tem inúmeras sequências e antologias escritas por outros autores.

Uma dessas antologias é Wicked – The life and times of the Wicked Witch of the West (Maligna, aqui no Brasil), escrita por Gregory Maguire e que chegou inclusive a ganhar um bem sucedido musical na Broadway (que conta com algumas alterações em relação ao livro, mas isso não vem ao caso)

Assim como o livro do Mágico de Oz é mais instigante que o filme, o livro da Bruxa é mais impactante que o da história de Dorothy. A contracapa do livro (pelo menos aqui no Brasil) diz “Todos conhecem a clássica história da garotinha Dorothy de O Mágico de Oz. Mas o que dizer de sua arquiinimiga? Alguém já ouviu falar na versão dessa história contada pela misteriosa Bruxa do Oeste?”

Mas a verdade é que o livro é muito mais do que a versão da Bruxa. É a história dessa garota verde chamada Elphaba e que foi pária durante toda a sua vida, mas que no fundo não tinha um pingo de crueldade em seu ser, apenas não sabia expressar o quanto se sentia alienada do mundo ao ser redor e do quanto precisava ser aceita e amada de verdade.

Se fosse uma simples versão, o livro se contentaria em narrar a mesma história pelo ponto de vista da Bruxa, mas não é isso que vemos. Nós temos a oportunidade de acompanhar a história de Elphaba desde antes do seu nascimento até a sua morte acidental, pelas mãos de uma garotinha ansiosa por perdão (confesso que eu quase não consegui perdoar Dorothy).

E a bem da verdade é que o livro é bastante político. Elphaba não tinha muito traquejo social e tampouco era muito chegada às pessoas, mas desde jovem tinha uma ligação profunda com os Animais (que, diferentemente dos animais, tinham capacidade de pensar, expressarem-se e inclusive de viver em sociedade como qualquer humano normal, a despeito de serem...bem, Animais). Foi justamente por sua ânsia de lutar pelo direito deles que abandonou o colégio e tornou-se uma das revolucionárias na Cidade Esmeralda, já que não aceitava a tirania do Mágico de Oz.

As primeiras partes do livro são bem leves e agradáveis de ler. Conhecemos Melena e Frex, pais de Elphaba (e o amante dos dois, Coração de Tartaruga), sua Babá, a irmã Nessarose (que futuramente viria a ser a famosa Bruxa Má do Leste, esmagada por Dorothy em sua chegada tempestuosa à Oz) e Galinda, colega de quarto de Elphaba no colégio e futuramente a conhecida Bruxa Boa do Norte.

É nesta fase que podemos simpatizar com essa jovem verde e estranha, que sempre fala a verdade e que curiosamente atrai e afasta as pessoas ao mesmo tempo. E é justamente por isso que é tão dolorido vê-la mergulhar no terrorismo do submundo da Cidade Esmeralda. Mesmo assim, lá ela encontra Fiyero, antigo colega de colégio com quem acaba tendo um relacionamento que mudaria sua vida para sempre. E é quando o livro entra em sua fase mais densa e angustiante.

Elphaba nunca mais foi a mesma depois da morte de Fiyero e os próximos anos de sua vida passou tão reclusa em si mesma que sequer tomou conhecimento do filho que teve com o homem que amava.

A busca pelo perdão da esposa de Fiyero e os contornos de seus primeiros passos como a Bruxa do Oeste são sem dúvida alguma os momentos mais depressivos do livro. Mesmo assim a essência de Elphaba estava ali e nada do que acontecia ao seu redor mudava realmente a pessoa que ela era, até a morte da irmã.

Não foi exatamente a perda de sua irmã mais nova que maculou a (inexistente) alma da mulher verde (que contava então, com 38 anos de idade), mas o que a fez dedicar sua atenção à jovem Dorothy foi a sensação de traição por parte de Glinda (Galinda), que deu os sapatos enfeitiçados da Bruxa do Leste para a garota. Elphaba sonhava em ganhar os sapatos, pois enxergava neles a prova do amor e aceitação paternos, e temia que o Mágico usurpasse os sapatos de Dorothy e com isso consolidasse seu poder tirânico sobre as terras do Leste.

Em pé de guerra com Elphaba, o Mágico barganhou com Dorothy a morte da Bruxa em troca de enviar a garota de volta para casa. É claro que a doce garota não desejava matar ninguém e só foi à procura de Elphaba em busca de perdão por ter matado acidentalmente sua irmã. Infelizmente a Bruxa não sabia disso e, transtornada, enviou seus animais (corvos, cães e os macacos voadores) para impedir que Dorothy e sua trupe se aproximassem.

Para mim essa é a parte mais estranha do livro, onde Elphaba mostrava-se quase enlouquecida em seu desespero, aproximando-a com maestria da Bruxa tão conhecida por nós em O Mágico de Oz. É quando descobrimos que o Mágico é provavelmente o pai biológico de Elphaba e responsável pela cor tão antinatural de sua pele. É também a sequência menos trabalhada da história, que com descrições desajeitadas e corridas culminou na morte acidental de Elphie pelas mãos da ingênua Dorothy. (Como a garota iria saber que o balde de água que jogara para apagar o fogo que ameaçava consumir a Bruxa, seria o responsável pela morte da sua suposta inimiga?)

Wicked termina com um sentimento opressivo e nos deixa com um gosto amargo em nossas bocas. Elphaba não merecia esse fim, ou pelo menos, não a loucura que a acometeu em seus últimos momentos. Talvez por isso o musical tenha enveredado por outros caminhos e alterado a história a tal ponto que pudemos ter um fio de esperança ao final.

Mas o livro é construído de forma brilhante e terminei a leitura com a certeza de que se OZ tinha uma personagem que merecia nosso carinho e nossas lembranças, essa era Elphaba Tropp, que tão injustamente ficou conhecida como a Bruxa Má do Oeste.

Um comentário:

Unknown disse...

Não sabia que este livro tinha sido editado no Brasil. Li há mais ou menos 4 anos atrás, antes de assistir o musical na Broadway, que achei legal, mas meio burocrático. Sua crítica ficou excelente.

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