Livro: Mockingjay
Autora: Suzanne Collins
Editora: Scholastic Books
Mockingjay encerra a série The Hunger Games com chave de ouro...ou de lágrimas. Embora seja um livro muito bem escrito, onde se enxerga a mão hábil da autora em conduzir os acontecimentos e seus personagens, não dá para negar o clima depressivo do final desta história. E não há como ser diferente em uma realidade onde adultos enviam seus adolescentes para matar ou morrer em um jogo televisionado para todo o país.
Após sobreviver aos Jogos Vorazes pela segunda vez (resenhas dos livros 1 e 2), Katniss Everdeen está destruída psicologicamente e mesmo assim querem usá-la como o símbolo da revolução que finalmente começou em Panem.
O final de Catching Fire, o segundo livro, já me deixa em uma situação de desconforto com Katniss. Não sou fã da personalidade da garota. De fato ela é confiável quando precisa sobreviver, e embora alegue colocar o interesse da família, Peeta ou mesmo Gale acima de sua própria vida, a verdade é que ninguém tem um instinto de sobrevivência tão forte quanto ela, que é o que permite a garota continuar no mundo dos vivos contra todas as probabilidades. Mesmo assim, o seu egoísmo e arrogância matam a personagem para mim. A sua mania de pre-julgar os outros é incrivelmente irritante, sem falar a sua paixão pelo próprio umbigo.
Até Mockingjay eu desculpava as atitudes da garota, tendo em vista a experiência traumática que vivenciara. Ser jogada em uma arena aos 16 anos para matar outros 23 adolescentes não apenas por uma, mas por duas vezes é um trauma psicológico irreversível e eu seria insensível se não compreendesse os surtos de Katniss, mas desde que a revolução estourou ela não tem mais a minha simpatia em seus dramas. Agora ela não é mais a única adolescente nesta situação, muito pelo contrário. Com o país todo em guerra, difícil é encontrar alguém que não tenha matado ou visto os seus queridos morrerem...queimados, bombardeados, eletrocutados entre outros horrores que só a guerra nos permite ver em primeira mão. Por isso o que as crises de Katniss demonstram para mim é exatamente o contrário do que ela alega. A garota se irrita fácil, sempre usa de hipocrisia e dois pesos e duas medidas. Enquanto mente e esconde descaradamente para 'proteger' os que ama, quando são os outros que o fazem com ela, Katniss se irrita, acusa de traição, tem dificuldade em perdoar, confiar e não tem qualquer respeito por autoridade algumas, sempre achando-se superior a qualquer pessoa que a cerca. Para ela, neste ponto, há apenas uma pessoa perfeita aos seus olhos: Peeta. Mas até isso eu creio que advém da situação de quase morte que vivenciaram e a captura do garoto pela Capital do que por um sentimento real. Como bem disse Gale, é impossível competir com Peeta enquanto o rapaz continuar manchado pelos horrores sofridos pela Capital. A verdade é que Katniss projeta uma imagem em Peeta e é por esta imagem que vive a sua obsessão durante todo o livro.Mas a despeito das falhas de caráter de sua personagem principal, Mockingjay conta uma história sem igual. As perdas que nós como leitores vamos sofrendo no decorrer do livro com certeza nos marcarão por um longo período. E depois de vermos a Capital com o controle total sobre a vida dos cidadãos dos doze Distritos, é com prazer que acompanhamos os Distritos durante a sua revolução. As perdas são inúmeras, mas ver um povo até então sacrificado levantando-se das cinzas e lutando pelos seus interesses é instigante e inspirador.
E como sempre, ver Katniss em meio a batalha é vê-la em seus melhores momentos. Desde o instante que decidem invadir a Capital o livro dá uma guinada e um aumento considerável no ritmo de leitura até o seu desfecho tortuoso. É incrível ver como a autora conseguiu terminar sua história totalmente coerente com a destruição na qual envolveu seus personagens, e eu, como leitora, confesso que acabei o livro com aquele gosto amargo de quem viu seus sonhos caírem por terra. Mesmo assim, por mais terrível que tenha sido a desesperança que senti ao final, sou obrigada a admitir o quão fantástica e bem escrita é esta série. São poucos os autores que conseguem criar um universo tão rico e com personagens tão reais como os da serie Hunger Games. Não é a toa que virará filme. Meu medo é em relação a censura. No meio de tantas mortes, uma mais horrenda que outra, como levar os jovens ao cinema e se manter fiel ao espírito do livro?
2 comentários:
Mica, obrigada pela dica no meu post do blog O que elas estao lendo... em breve pretendo retomar minhas leituras e vou dar um repensada em continuar lendo a serie. :) Mas muito bom saber que os livros foram melhorando.
bjos
É isso que penso, o filme talvez leve alguns ''cabeças fracas'' à algumas atitudes extremas. Tenho medo disso.
Ótima descrição do livro gostei!
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