domingo, 30 de março de 2014

Desafio Literário do Tigre 2014: Dragão Vermelho


DESAFIO LITERÁRIO DO TIGRE
TEMA 3: LIVRO OU FILME?

Mais um mês, mais um livro para o DL do Tigre. Tive bastante dificuldade para decidir o que ler, porque eu queria um livro que eu já houvesse assistido ao filme e não um que eu visse especialmente para poder ler o livro. O problema é que nos últimos anos eu fiz questão de ler quase todos os livros cujos filmes eu assisti. Então precisei fazer uma busca por adaptações cinematográficas e a minha lista até que ficou interessante, mas só dificultou ainda mais a decisão. No final acabei lendo Dragão Vermelho mais por me deixar levar do que escolher de verdade (minha escolha tinha sido Reparação, mas estou meio empacada, pois lembro do quanto sofri com o filme e a ansiedade pré-sofrimento está me fazendo ler muito, mas muito devagar). Um pouco foi culpa da Simone Miletic que foi quem me falou desse livro quando o  leu no ano passado (eu nem sabia que todos os filmes de Hannibal eram adaptações, pensava que fosse apenas O Silêncio dos Inocentes) e como eu o tinha comigo, comecei o bendito e não consegui mais parar até terminar.

Eu já assisti a pelo menos uma adaptação de cada livro escrito sobre Hannibal Lecter, mas já faz muito tempo e poucas são as recordações. Dragão Vermelho mesmo eu assisti em 2002, quando foi lançado. Minha única lembrança era que o Will Graham era interpretado pelo Edward Norton (e, claro, que o Hannibal era o Anthony Hopkins). Mas Hannibal voltou ao imaginário popular com o lançamento da série da NBC com o mesmo nome, a qual é uma espécie de prequel aos acontecimentos narrados em Dragão Vermelho, fazendo uso dos mesmos personagens, e, com isso, surgiu todo o interesse em rever os filmes e ler os livros.

É engraçado, porque apesar de atualmente Will Graham ter para mim a face de Hugh Dancy e Dr. Lecter a imagem de Mads Mikkelsen, quando eu li o livro era Edward Norton quem eu enxergava. Acho que tem a ver com a forma como o autor o descreve, ou com o cinismo, distanciamento e frieza de Will. Na sua contraparte televisiva Will é bem mais fechado e como temos um contato maior com a sua mente, vemos um pouco da sua loucura (talvez fosse melhor dizer 'empatia com o criminoso'). Isso não fica tão evidente em Dragão Vermelho. Na verdade, aqui Will já sofreu o que tinha que sofrer e agora mantém uma distância segura (inclusive mental) de quem está caçando. Ou pelo menos assim deveria ser, mas nem sempre as coisas são como deveriam.

Dragão Vermelho é o primeiro livro da saga do (psiquiatra) canibal Hannibal Lecter, mas aqui ele é apenas uma personagem coadjuvante. Eu sinceramente não teria imaginado o sucesso que a personagem faria nas demais histórias se tivesse lido apenas esse livro. Aqui, pelo menos para mim, o foco era total em Will e no FBI.

O livro nos traz o assassinato de duas famílias de uma forma bastante curiosa e Will, que está aposentado após a captura de Hannibal Lecter, é chamado para dar uma posição sobre o caso. Sendo ele quem é, não consegue se manter afastado e mergulha profundamente na vida das vítimas e no crime que está investigando. Os detalhes sobre a captura de Lecter não são mencionados, apenas alguns vislumbres, alguns nomes (o que, percebi mais tarde, permitiu a liberdade criativa da produção da série de TV), e o mais importante, o quanto Will ficou traumatizado por ter quase morrido nas mãos do psiquiatra antes de capturá-lo, mas principalmente por ter sido enganado por tanto tempo.

Lecter aparece algumas vezes no livro, pois Will o procura para trocar algumas ideias sobre o novo caso. O problema é que inadvertidamente essa visita acabou por levar o próprio Will ao 'radar' do assassino 'Fada do Dente' e toda e qualquer aparente distância e segurança que Will vinha mantendo desaparece.

A história é tensa e o autor constrói o assassino de uma forma muito inteligente e bastante humana. Gasta um longo tempo explicando quem é ele e quais as suas motivações, a ponto do leitor se ver incapaz de odiá-lo. Abominar suas atitudes sim, mas odiar a pessoa que ele é, bom, nem sempre isso é possível.

O final eu achei bem surpreendente e um pouco doloroso. Inclusive, o filme de 2002 mudou levemente o final, deixando-o bem mais leve e agradável.

Reassisti ao filme logo após terminar a leitura do livro e imaginei que não iria gostar (é difícil gostar de um filme quando a imagem do livro ainda está tão presente em nossa mente), mas a adaptação foi bastante fiel e me surpreendeu. Claro, tiveram alterações, a maior delas na importância que deram à Hannibal Lecter (até acho que ele tenha aparecido o mesmo tanto de vezes no livro - não foram muitas - mas a forma como ele foi utilizado, suas palavras e impacto delas foram muito maiores no filme). A família de Will e como reagiram ao crime e ao envolvimento de Will no caso também foi levemente alterado, bem como tiveram que cortar algumas explicações sobre a vida pregressa do Dragão (também conhecido como Fada do Dente) mas a maior mudança foi realmente o final. Nada absurdo ou incoerente, mas definitivamente alterou o humor que o espectador teve ao terminar de ver o filme em relação ao humor do leitor ao final do livro.

Uma pena que Will Graham não volte a aparecer nos demais livros. A boa notícia é que a série de TV ainda nos abrilhantará com a história do consultor do FBI por muito tempo.

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