quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Doctor Who: Into the Dalek (8x02)




Série: Doctor Who
Episodio: Into the Dalek
Temporada: 8ª
Nº do episódio: 8x02
Data de Exibição: 30/08/2014
Roteiro: Steven Moffat e Phil Ford
Direção: Ben Wheatley

Fiz o texto na semana passada e esqueci de postar o bendito...
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O segundo episódio da temporada chegou com uma cara de coisa requentada, embora tenha agradado uma boa fatia do público. Eu, particularmente, lembro do episódio Dalek (6° episódio do 9° Doctor) onde o Doctor também encontra um dalek defeituoso e solitário, aprisionado entre os humanos, e não tem como não colocar ambos na balança e perceber o quanto Into the Dalek sai perdendo, seja em questão de roteiro, seja em execução ou mesmo em tensão provocada com as cenas.

Não é de hoje que a idéia de um dalek ‘bom’ permeia o imaginário de Doctor Who e tampouco a obstinação do Doctor em não acreditar na transformação do inimigo, principalmente porque a essência de um dalek é não ter piedade, compaixão ou mesmo remorso. Se ele é capaz de sentir algo além da noção de que é um ser supremo e, como tal, deve dominar o universo, não é um dalek, é um organismo defeituoso.

Nesse ponto até faz sentido a ação deste episódio, já que Rusty era de fato um dalek defeituoso e apenas por esse motivo poderia ser considerado ‘bom’. O inadmissível foi o Doctor, sabendo disso, consertar o inimigo e ficar surpreso de Rusty voltar a sua diretriz básica. Ora essa, se o que o fazia enxergar a beleza do mundo era o vazamento radioativo dentro dele, não era lógico que, consertando-o esta beleza seria suprimida novamente?

O lado positivo foi termos a oportunidade de conhecer um pouco mais de perto a anatomia de um dalek. Bom, mais ou menos, já que o grupo somente caminhou entre a estrutura cibernética que recobre o corpo físico de um dalek e não adentrou o organismo biológico propriamente dito, mas dou um desconto, porque não acredito que eles seriam capazes de respirar sem algum tipo de equipamento apropriado se estivessem circulando pelas veias e neurônios do dalek de verdade, e não da carapaça.  Na verdade, passei boa parte do episódio lembrando daquele filme com o Dennis Quaid, Viagem Insólita (que passava à exaustão na Sessão da Tarde quando eu era criança) e pensando que era muito mais legal a forma como o filme retratava a viagem para dentro de  um corpo (no caso, humano).



Mas o melhor do episódio foi termos daleks engajados em exterminar, vencer guerras e eliminar ameaças. Eu gosto dos daleks, eles são os inimigos mais antigos de Doctor Who e um dos motivos do sucesso original da série. Acho legal quando eles não são ridicularizados ou enfraquecidos. É sempre interessante vê-los destruindo sem dó nem piedade qualquer um que se coloque em seu caminho, e as cenas de batalha no espaço foram surpreendentemente bem feitas para Doctor Who. Uma pena que os roteiristas (a dupla Steven Moffat e Phil Ford) não tenham se dado ao trabalho de localizar a história em algum ponto no tempo. Para mim, pareceu um pouco como preguiça dos roteiristas de pensarem em que ponto da história do universo os daleks estavam massacrando a humanidade daquele jeito e por isso deixaram tudo vago.

Quanto à humanidade rebelde eu não tenho muito a dizer. Achei esse elenco de apoio incrivelmente sem sal. Eu não conseguia me importar com o destino de nenhum deles. Tentei até o fim gostar de Journey Blue, afinal, a garota tinha acabado de perder o irmão e tal, mas não consegui. Ela me soava como uma personagem fraca e bem pouco útil ao desenrolar da história. Confesso que fiquei feliz do Doctor ter rejeitado seu pedido de acompanhá-lo na TARDIS, pois eu não sei se conseguiria agüentar a falta de carisma da garota. Embora, admito, o motivo pelo qual o Doctor a rejeitou me soou muito estranho. Não é como se ele não tivesse lutado/viajado ao lado de soldados em outras oportunidades e ela pelo menos parecia ter o coração no lugar certo, por mais insípida que fosse em cena.

Por outro lado, uma ótima adição foi o ex-soldado Danny Pink. O rapaz não se encontrou com o Doctor e tampouco viajou na TARDIS, mas transbordou simpatia. Foi um personagem que foi bem trabalhado pelo roteiro, mostrando sua dificuldade em lidar com os horrores que viu e o que fez na guerra (e talvez até mesmo fora dela), ao mesmo tempo em que evidenciava sua timidez e reserva. Gostei bastante de suas cenas com os alunos e até mesmo sua interação com Clara.


O único porém que destaco é a tentativa de iniciar um relacionamento amoroso entre Clara e Danny. Achei desnecessário e apressado. A garota o conhece e cinco minutos depois está com olhares e sorrisos apaixonados? Um pouco de realismo, por favor!? Eu creio que teria sido muito mais crível e interessante se a série estabelecesse os parâmetros para uma amizade entre os dois personagens. Talvez esta amizade pudesse evoluir para algo mais ao longo dos episódios, mas a forma como fizeram deixou tudo muito falso e difícil de aceitar.

Uma coisa que eu não gosto nestas últimas temporadas de Doctor Who é como os companions parecem ser coisas avulsas. Rory e Amy tinham suas vidas fora da TARDIS depois de um tempo e foi até interessante como experiência, mas eu não aprovo. Não gosto de Clara usando o Doctor como hobby. Não consigo tirar da cabeça a idéia de que se eu fosse um Time Lord que tem todo o tempo do mundo para viajar para onde eu quiser, eu não ficaria voltando a cada três semanas (um mês, uma vez ao ano, quem é que está contando!?) para uma garota que obviamente não tem tanto interesse assim em viajar comigo, principalmente se eu já tivesse conhecido várias outras pessoas, talvez até mais interessantes, nesse meio tempo.

Não sei explicar muito bem, mas eu gosto da idéia lúdica de um companion que larga a sua vida para correr atrás de aventuras e faz desta nova vida período integral, pelo menos durante um tempo, quando então volta à realidade e sente-se pronto para enfrentar o dia a dia aqui na Terra. Eu sinto falta disso. A sensação que eu tenho é de que Clara nunca se entregou de verdade. No episódio passado eu reclamei quando o Doctor a chama de controladora, mas de certa forma ela é. Desde o início ela mantém o Doctor sob o seu regime. Ela o segue quando quer seguir, contando que ele vai aparecer mais cedo ou mais tarde para levá-la dar uma volta e ver algumas coisas interessantes, desde que isso não prejudique o seu aqui e agora. Falta a ela a coragem de se jogar, de se lançar na aventura e viver o sonho. Para mim é um pouco deprimente pensar em um dia a dia dando aulas e entremeando com viagens para o espaço ou o futuro, sem um compromisso real com o que está sendo oferecido a ela. Eu sei que é justamente isso o que muita gente gosta em Clara, mas para mim não funciona. Era um dos motivos que mais me incomodavam na personagem na temporada passada e, percebi, continua me incomodando nesta.

Quanto ao Doctor em si, cada dia eu gosto mais desta sua Décima Segunda regeneração. Algo nele me lembra demais o Primeiro Doctor e sua falta de interesse no indivíduo sozinho e apenas no resultado como um todo. Adorei quando ele diz que Clara é que se preocupa por ele para que ele não tenha que se preocupar.



Sim, é um pouco chocante quando o vemos aceitar tranquilamente a morte do soldado pelos anticorpos do dalek, mas é totalmente condizente com o que o Doctor sempre foi. As suas últimas regenerações é que se preocupavam demais com a forma como as pessoas o enxergavam, ele não queria decepcioná-los e vivia sob uma máscara constante. Agora ele está simplesmente sendo ele mesmo, embora ainda não tenha bem certeza de quem seja na verdade. Descobriremos juntos ao longo da temporada.

Acho válido o seu questionamento se é um homem bom.  É uma coisa difícil de se dizer. O Doctor já passou por tanta coisa, influenciou tanta gente e foi responsável por inúmeras mortes e destinos alterados que depende muito do ponto de vista de quem responderá a pergunta, mas se tem uma coisa que não há como negar é que ele sempre tenta fazer o que é melhor para os envolvidos e isso importa no final das contas.

Não sei se eu concordo com a afirmação do dalek de que o Doctor é um bom dalek. Há de se pensar que, embora Rusty tenha enxergado no mais profundo do Time Lord, ele captou todo o ódio que o Doctor mantém pelos daleks ao longo da vida.  Embora algumas vezes haja de formas extremas, e teria eliminado toda a própria raça e os daleks para trazer paz ao universo se não tivesse encontrado uma forma melhor, a raiva e o desprezo que o Doctor sente pelos daleks não têm como ser comparada à arrogância e falta de reciprocidade dos próprios daleks. Rusty viu no interior do Doctor o eco do sofrimento pelo qual o Time Lord e todo o universo passaram por conta dos daleks, e foi isso que o levou a alterar a sua programação básica em busca da destruição da própria raça. Rusty  não se tornou um dalek bom, ele apenas mudou o foco de sua sede por dominação, fazendo uso do desejo sincero do Doctor de que os daleks sejam erradicados da existência.

Já o Doctor, mesmo sendo capaz de atrocidades, sempre tenta a melhor opção, a que salvará mais vidas e trará o equilíbrio a longo prazo. Nem sempre ele consegue, é verdade, mas é justamente esta consciência da beleza do universo e de todos os seres que nele habitam que o faz tolerar tantas coisas e até mesmo tentar encontrar a bondade dentro de um dalek.



Observações:

- Missy fez mais uma aparição no pós-vida. O mistério continua.
- Como é que o Doctor saiu da mira das armas dos soldados rebeldes lá no início e conseguiu entrar na TARDIS para buscar Clara? Ou eles deram permissão para ele voltar para sua nave, desaparecer, ir sabe-se-lá onde, e voltar com uma jovenzinha para o meio da guerra? Achei muito mal explicado isso, principalmente porque eles o viam como um possível espião dalek.
- Adorei a forma como o Doctor trata Journey Blue quando ela acorda dentro da TARDIS. Ele não está nem aí para a arma dela apontada. Aquela é a sua TARDIS e ninguém o intimida ali dentro.


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Texto publicado também no site Teleséries.

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