quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Doctor Who: Robot of Sherwood (8x03)


Série: Doctor Who
Episódio: Robot of Sherwood
Número do Episódio: 8x03
Data de Exibição: 06/09/2014
Roteiro: Mark Gatiss
Direção: Paul Murphy

Quando vi o trailer de Robot of Sherwood eu não esperava muita coisa, por isso foi com  uma agradável surpresa que eu percebi que me diverti horrores assistindo a esse episódio. Ele foi leve, divertido e eu me encantei pelas atuações. Nunca pensei que fosse gostar tanto assim de um episódio escrito pelo Mark Gatiss (sempre fico com o pé atrás quando é ele o roteirista). É bem verdade que o episódio tem alguns defeitos, mas a maior parte deles eu só percebi quando comecei a ver os comentários alheios que me forçaram a pensar um pouco mais no que foi apresentado em tela, mas a verdade é que, enquanto eu assistia, a única coisa que eu fazia era me divertir.

O clima do início do episódio, com o Doctor e Clara na TARDIS teve todo um ar de fantasia que eu gostei muitíssimo. A forma como eles conversavam, a música de fundo, tudo contribuiu para dar um toque de conto de fadas. Eu só gostaria de saber o que tanto o Doctor tem escrito aqui e acolá desde a premiere. Está tentando achar Gallifrey? Ou é algo que ele faz inconscientemente? Será que tem a ver com a tal Terra Prometida? Ou nada tem a ver com nada e todos esses cálculos com giz só estão ali para distraírem o espectador?

Toda a interação do Doctor com Robin Hood foi hilária. Sim, eram situações tolas e até infantis, mas nem por isso menos divertidas. Eu entendia perfeitamente a incredulidade do Doctor em relação a Robin Hood. Eu confesso que passei o episódio inteiro esperando alguém desmascarar Robin e seu bando, e fiquei um pouco desapontada por tudo ser real. Não sei explicar, mas eu sempre espero que, quando o Doctor se aventura no passado da Terra, ele se atenha à verdade. Bom, o mais próximo da verdade possível. Algumas alterações são necessárias pelo bem do desenrolar dos episódios, mas tornar uma lenda e todos os seus pormenores em algo real me incomodou. Tudo bem que teve todo o diálogo no final falando sobre os mitos (que foi muito pertinente e, talvez, o diálogo mais bem escrito e emocionante do episódio inteiro), mas ainda assim tudo foi perfeito demais para encaixar com o que é conhecido como a lenda de Robin Hood, o que me deixou ainda mais irritada com isso.


Mas foi ótimo ver um outro lado do Doctor, após todo o drama pelo qual ele passou nos dois primeiros episódios. A rabugice dele foi ótima, ao mesmo tempo em que eu me divertia ao vê-lo testando todo o bando de Robin. E, não dá para negar, Robin ri demais para ser real, quem é que consegue acreditar naquela alegria toda!?

Eu preciso aproveitar o momento para elogiar a atuação de Peter Capaldi, que trouxe uma leveza muito própria para a comédia do Doctor e me lembrou tanto de alguns Doctors antigos que eu só conseguia sorrir.

Sim, eu sei que estou me repetindo ao falar do quanto me diverti com o episódio, mas é que fazia muito tempo que eu não assistia a um episódio e me sentia tão bem durante o processo. E eles escolheram atores perfeitos para darem vida a Robin Hood e o Xerife de Nottingham.  Tom Riley tem todo esse ar de anti-herói sorridente e safado em quem você quer confiar. Já Ben Miller é o avesso. Ele sempre parece o vilão, mas ainda assim é difícil odiá-lo (ou levá-lo muito a sério), porque algo nas suas expressões facial e corporal o faz carismático.

A única decepção foi Marian que, a meu ver, não fez muito coisa. Certo, ela ajudou na rebelião que libertou o Doctor e se impunha contra os desmandos loucos do Xerife, mas tenho a sensação de que ela não tinha uma função real além de simplesmente existir e ser a Marian de Robin.


Uma coisa que me impressionou foi como o Doctor não foi exclusivamente o salvador da humanidade, solucionador de todos os problemas e detentor de todas as respostas como ele vinha sendo há um bom tempo. Ele reclamou e aproveitou a situação, pensou um pouco, analisou as coisas e chegou a conclusões, mas Clara e o próprio Robin tiveram participações bem mais ativas. De certa forma me lembrou um pouco o Primeiro Doctor, que sempre deixava os companions se virarem, pois se achava superior demais para se intrometer em pequenas querelas, e quando se intrometia sempre acabava arrumando mais confusão (embora fosse sim o responsável final pela solução). Eu vi muito disso no Doctor nesse episódio, apesar de que o sentimento nessa situação em particular era que ele não acreditava na veracidade do que vivenciava, o que o levou a agir como um maluco meio perdido o episódio inteiro.

Quanto a Clara eu tenho sentimentos conflitantes. Ela foi um pouco contraditória e em algumas situações eu tinha a sensação de que faltava realismo à personagem. Eu entendo a sua felicidade por conhecer Robin Hood e perceber que tudo era exatamente igual às lendas, mas o que eles estavam vivendo era real e eu esperava dela uma reação à altura do perigo que enfrentaram, do Xerife e dos robôs (saídos do nada, mas, na verdade, eles eram o menos importante, o que se destacava no episódio era justamente a jornada que levaria o Doctor a perceber que ele era sim um herói, mesmo que não visse a si mesmo desta forma. E não é interessante que ele passou os últimos encontros com Clara perguntando se era um homem bom só para descobrir que no fundo ele é o herói dela? Ela passou a acreditar no impossível por causa dele?). Durante todo o tempo Clara agiu como se fosse tudo uma peça de teatro, uma brincadeira, um livro de histórias, o que, devo admitir, aumentava em mim a sensação de que nada daquilo fosse real e, por fim, me deixasse tão injuriada ao mostrarem que era tudo verdade.

Eu sei que Clara é forte, destemida, inteligente e muito capaz. Foram ótimas as atitudes dela ao longo do episódio, como colocou o Doctor e Robin nos seus devidos lugares e como lidou com toda a situação com o Xerife, mas ainda assim faltou a ela um toque de realidade. Isso me incomodou um pouco.


Já a respeito da história em si, não há muito o que falar. Era claro que o objetivo de Gatiss nunca foi fazer um roteiro brilhante e extremamente inteligente, com um caso difícil de ser solucionado e com situações complicadas e plausíveis. Os acontecimentos pouco importavam e muito menos o Xerife e os robôs (caso contrário não teria contado sobre o que era a história logo no título), o que estava sendo mostrado era a interação daqueles personagens, era a outra faceta deste novo Doctor que ainda está se descobrindo e que continua a surpreender com suas atitudes e comentários quase sempre inesperados. Como não adorar um episódio desses?

Robot of Sherwood provou que é possível fazer um episódio descontraído e ainda assim cheio de reflexões e profundidade.

Observações:

- Que coisa mais linda aquele vestido da Clara! Mas poderiam ter maneirado no cabelo, que estava lindo, mas era impossível arrumá-lo daquele jeito nos segundos que ficou dentro da TARDIS.

- Excelente a luta de espada x colher entre Robin e o Doctor. Sorte do Doctor que estava comendo iogurte um pouco antes de desembarcarem.

- Eu lembrei muito do Primeiro Doctor porque foi o que eu mais conheci da era clássica, mas vi muita gente lembrando do Segundo e do Quarto com esse episódio.

- Sentido nenhum alguém que está atrás de ouro para fazer a nave funcionar oferecer como prêmio uma flecha de ouro, mas tudo bem.

- Ao que parece o Xerife era um humano que ficou ferido na ocasião da queda da nave espacial e foi reconstruído como um cyborg, mas a cena, que envolvia decapitação, foi deletada em respeito às mortes ocorridas no Reino Unido recentemente.

- Uma das imagens do banco de dados de Robin Hood era ninguém menos que Patrick Troughton, o Segundo Doctor, que intepretou Hood em 1953 em (mais) uma série de tv.


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Este texto também foi publicado no site Teleséries.

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