terça-feira, 22 de maio de 2012

Desafio Literário 2012: Ninotchka - A Heroína das Estepes


Sinopse: São Petersburgo, ano de 1825. O passo dura da marcha dos soldados ecoa pelas ruas. Diante do Palácio de Inverno reuniram-se regimentos da Guarda. Tambores rufam em tons afabados; espadas cintilam no pálido sol de dezembro. Nesse mesmo momento, Ninotchka, filha do Conde Kochkin, experimenta seu vestido de noiva. Dentro de poucaos dias será seu casamento com o tenente da Guarda Imperial, Bória Tugai.
Nisso ecoam tiros. A neve diante do Palácio de Inverno tinge-se de sangue.
A rebelião dos 'decembristas', que pretendiam derrubar Nicolau I, foi derrotada. Entre os conspiradores presos está Bória Tugai: o homem a quem Ninotchka ama acima de tudo em sua vida.

Livro: Ninotchka - A Heroína das Estepes
Autor: Heinz G. Konsalik
Tradução: Lya Luft
Editora: Record
Páginas: 189

O tema do Desafio Literário deste mês de maio é 'fato histórico'. Meus dois títulos iniciais naufragaram (mais precisamente, não consegui nenhum exemplar do que eu queria ler) então acabei encontrando Ninotchka em um sebo em um dia de andanças pelo centro da cidade. Confesso que comprei sem nunca ter ouvido falar do bendito, somente li a sinopse na contracapa e me pareceu adequado para preencher os requisitos do Desafio.

O livro não é de todo mal, na verdade, é até interessante, de um jeito ingênio e meio açucarado.

Foi escrito em.....bom, não sei quando porque não veio impresso no livro a data (nem da tiragem original e muito menos da edição em português). Mas como o autor (o alemão Heinz G. Konsalik) nasceu em 28/05/1921 e morreu em 02/10/1999, foi entre essas décadas que o livro foi escrito. Minha suposição é de que ele escreveu lá pela década de 50 ou 60, mas é só suposição mesmo (levando em consideração o tema e o estilo da escrita).

O livro conta a história de Ninotchka, a jovem filha do Conde de Kochkin, que vê seu casamento murchar na véspera da cerimônia, pois o noivo participou da Revolução Decembrista (1825) ocorrida na Rússia, com a intenção de depôr o novo czar Nicolau I.

Eu confesso que não sou a maior conhecedora da história russa e, embora tenha pesquisado aqui e acolá sobre o assunto, não me sinto muito segura para fazer maiores comentários. O que eu sei é o que livro me conta: vários nobres e mesmo a elite militar se revoltou contra o novo Czar (que assumiu no lugar de Constantino, seu irmão, que abdicou) e foi aprisionado. Desta elite, 120 foram sentenciados ao exílio na Sibéria, enquanto 05 civis foram enforcados.

A nós, interessa a história (fictícia) de Bória Tugai, um tenente idealista, que participa da revolução e é preso às vésperas do casamento. Ninotchka, completamente apaixonada, abandona casa, família e vida na nobresa para fazer plantão nas portas da prisão juntamente com as outras mulheres dos sentenciados e, posteriormente, abdica de tudo para seguir Bória (agora já casados) ao exílio.

A primeira metade do livro me irrita bastante em alguns pontos, em especial as atitudes romantizadas dos personagens. Eu imagino que Konsalik escreveu sua história com a intenção de que o leitor se identificasse com os decembristas e suas mulheres, sentindo-se penalizado com eles. Infelizmente para mim todo o açúcar escorrendo pelas páginas teve um efeito contrário. Eu olhava a atitude daquela gente e só conseguia enxergar petulância, arrogância e egoísmo. Só bem mais à frente (pra lá da página 100) é que eu consegui olhá-los como pessoas de carne e osso, a despeito das floreadas do autora.

O que me incomoda na metade inicial: Bória vai se casar dentro de poucos dias, mesmo assim se lança à uma revolução fadada ao fracasso e nem ao menos avisa à noiva do que fará, deixando-a seguir com os preparativos para um casamento que obviamente não aconteceria.

Ninotchka, por sua vez, é tão obcecada por Bória que não se importa a mínima com o sofrimento que impõe aos pais. Foge de casa, faz piquete na frente da prisão, depois retorna só para fugir novamente. E é tudo desnecessário, pois o pai não a impediria de lutar por Bória. Ele a amava tanto que estava disposto a permitir que ela escolhesse o próprio destino, enquanto a jovem não pensou no pobre pai nem uma única vez.

A "gota d'água" foi quando ela pediu ao pai para interceder junto ao Czar para que ele permitisse o casamento com Bória (já um condenado político ao exílio na Sibéria - o que, naquela época, era a morte certa, devido à crueldade das intempéries do tempo naquele lugar).O pai disse que o Czar já não o recebia mais e que ofereceria a própria cabeça, a própria vida em troca da permissão do casamento. E nem por um único instante Ninotchka titubeia. Ela estava disposta a trocar a vida do pai pelo casamento com Bória. Que espécie de gente é essa!? Não respeito uma mulher que por obsessão (não chamo isso amor) por um homem condene os pais à infelicidade e até à morte. Se os pais fossem tiranos que tentassem impedi-la de ficar com o homem que ama eu até entenderia toda a sua rebeldia, mas eles nunca deram nada além de amor e compreensão para a filha, que se mostrou uma garota mimada e obcecada.

As outras mulheres que seguiram seus maridos, igualmente condenados, também me irritavam várias vezes (mais pelos diálogos do que pelas atitudes), mas pelo menos boa parte delas tinha a convicção revolucionária do marido, o que as levou a segui-los onde eles fossem. Mas não Ninotchka. A garota não estava nem aí para a revolução ou a Rússia, tudo o que lhe importava era Bória. Se o mundo, juntamente com sua família, explodissem, ela não ligaria a mínima desde que tivesse Bória. Peço desculpas, mas ela não tinha e nem merecia o meu respeito.

Na segunda metade do livro as coisas melhoram um pouco, pois passamos a ver a vida na taiga, o esforço daquela gente em construir um lar na Sibéria e de não se deixarem vencer pelo exílio. E foram eles os responsáveis por boa parte do desenvolvimento daquele canto do mundo, da organização, da cultura e prosperidade. Essa parte da história realmente me empolgou e li com prazer.

O final foi um pouco inverossímil, mas nesse ponto eu já tinha me rendido aos personagens (pelo menos um pouco) e me permiti sofrer com eles e me alegrar com suas alegrias.

Ninotchka - A Heroína das Estepes não é um livro que eu fortemente recomende, mas também não digo para fugirem desesperados. Acho até que pode agradar a muitos, sem falar que é relativamente fácil e rápido de ler e bastante curto.

********

Um comentário:

Vivi disse...

Apreciei muito a história vista pelo seu olhar. Quem sabe não encontro um exemplar na Estante virtual?

Postar um comentário