Livro: As Brumas de Avalon
Autora: Marion Zimmer Bradley
Editora: Imago
As Brumas de
Avalon é uma entre tantas histórias que envolvem o mito do Rei Arthur, de
Camelot e de sua Távola Redonda. Mas embora a autora tenha, além de descrever o
mito, também se aprofundado consideravelmente na história da Bretanha, ela
escolheu não narrar as guerras e os passos dos guerreiros de Arthur (e do
grande Lancelote das lendas), embora sejam todos mencionados e, querendo ou
não, são a força motriz do livro. Marion decidiu contar a história de Arthur
com um forte enfoque nas mulheres que o cercavam e que tiveram grande
envolvimento com a sua vida e com o destino do reino. Igraine, a mãe; Morgana,
a irmã e amante; Gwenhwyfar, a esposa; e Viviane, a tia e tão conhecida Senhora
do Lago.
Todas são
mulheres fortes – mesmo em suas fraquezas e obsessões – que tiveram tanto
espaço na criação da Bretanha quanto os homens que guerrearam pela liberdade de
seu povo e sua terra. Mas em nenhum momento a autora deixou de lado o universo
masculino focando-se apenas no feminino, muito pelo contrário. Ela mesclou com
maestria o papel de cada um nesse período importante da história (embora
recheado de misticismo, fantasias e ‘liberdades’ para encaixar com a história
que queria contar), pois não há terra que se construa apenas com homens ou
somente com mulheres. Inevitavelmente é necessária a união de ambos.
As Brumas de
Avalon, eu creio, é o meu livro preferido.
Esta é a sexta vez que eu o estou lendo e a experiência tem sido quase
tão prazerosa quanto a primeira. E eu digo ‘quase’, porque As Brumas foi o
primeiro livro que eu li (ou que recordo ter lido), ainda com 8 anos de idade,
então a lembrança que eu tenho da leitura é bastante mágica e especial.
Verdade seja
dita, nesta releitura eu percebi que As Brumas influenciou grandemente a forma
como eu veria os personagens e o tipo de história que me atrairia dali para
frente. O engraçado é que os personagens que eu amei com paixão na minha
primeira experiência com o livro continuam sendo os meus grandes amores – assim
como os que eu odiei ainda são tão odiados quanto antes, talvez até mais, pois
agora eu os compreendo ainda melhor.
Apesar desta ser minha sexta vez, eu não lia As Brumas há mais de 12 anos. Minha forma de ver o mundo mudou consideravelmente desde a adolescência e por isso fiquei tão surpresa (e de certa forma feliz) ao perceber que meus sentimentos iniciais pela história e seus personagens não mudou. É claro que eu amadureci e minha experiência de vida cresceu, o que me fez enxergar várias situações com muito mais clareza, mas a verdade é que a autora conseguiu contar uma história sem sombra de dúvidas adulta, de uma forma que uma criança de 8 anos (e 12, 15, 18) conseguisse entender e ainda captar as nuances de personalidades e atitudes. As coisas que perdi à época, foram devidas à minha inocência, mas o que realmente importava eu captei e me marcou profundamente. Por outro lado, aquela magia de um conto quase de fadas (afinal, não é a toa que a personagem principal é chamada de Morgana das fadas) teve um acesso muito mais fácil e misterioso na minha mente fértil de criança, e essas são imagens preciosas para mim.
Apesar desta ser minha sexta vez, eu não lia As Brumas há mais de 12 anos. Minha forma de ver o mundo mudou consideravelmente desde a adolescência e por isso fiquei tão surpresa (e de certa forma feliz) ao perceber que meus sentimentos iniciais pela história e seus personagens não mudou. É claro que eu amadureci e minha experiência de vida cresceu, o que me fez enxergar várias situações com muito mais clareza, mas a verdade é que a autora conseguiu contar uma história sem sombra de dúvidas adulta, de uma forma que uma criança de 8 anos (e 12, 15, 18) conseguisse entender e ainda captar as nuances de personalidades e atitudes. As coisas que perdi à época, foram devidas à minha inocência, mas o que realmente importava eu captei e me marcou profundamente. Por outro lado, aquela magia de um conto quase de fadas (afinal, não é a toa que a personagem principal é chamada de Morgana das fadas) teve um acesso muito mais fácil e misterioso na minha mente fértil de criança, e essas são imagens preciosas para mim.
Decidi reler agora, depois de tanto tempo, porque uma amiga pediu o livro emprestado. Então, antes de cada livro que entrego, eu leio para podermos discutir, pois queria ter tudo fresquinho na memória.
A minha grata
surpresa nesta situação foi perceber que, a despeito da minha memória horrível,
eu lembro praticamente tudo de As Brumas de Avalon. Mais uma prova do quanto
esta história foi importante para minha vida.
Considero As
Brumas de Avalon um único livro, dividido em quatro volumes. Mas como estou
lendo aos poucos, também farei os comentários em duas (talvez três) partes.
Volume 01: A Senhora da Magia
Páginas: 252
Páginas: 252
O primeiro é o
meu volume preferido, pois ele cobre uma fase da vida de Morgana que eu gosto
muito. E tem aquele toque meio mágico e etéreo, que tanto me intrigou quando
criança (e ainda me intriga). É neste volume que conhecemos a mãe de Arthur,
Igraine, e como ela foi dada em casamento a um romano por sua irmã, e como, quatro
anos depois, é avisada que o marido irá morrer e ela deve desposar Uther
Pendragon, o futuro Grande Rei da Bretanha.
É interessante
como a autora usa algumas passagens mostrando outras encarnações de Igraine e
como ela está relacionada com Uther ao longo de sucessivas vidas, iniciando
provavelmente na antiga Atlântida, ou mesmo antes disso. E eu, que já li vários
outros livros da Saga de Avalon (em especial A Queda de Atlântida, que é o meu
preferido e o início desta história) senti um prazer especial em ir desvendando
as cenas, relembrando personagens, encaixando situações.
É bem verdade que passei anos tentando imaginar quem seria Morgana no passado (e intimamente tinha um desejo ardente de que ela fosse Deoris, a minha personagem preferida em A Queda de Atlântida e, talvez, a preferida de todos os universos já criados por Marion, com exceção de Morgana). Mas foi só recentemente que me deparei com uma página na internet falando sobre os livros de Avalon, com vários comentários da autora Diana L. Paxson, que foi auxiliar de Marion Zimmer Bradley enquanto esta ainda estava viva, e que assumiu seu legado Bretão após sua morte. Meus livros preferidos continuam sendo os escritos inteiramente por Marion, mas Diana tem uma mão firme, muito mais ligada à história da Bretanha (que ela conhece a fundo) do que à magia e fantasia, como era com Marion.
É bem verdade que passei anos tentando imaginar quem seria Morgana no passado (e intimamente tinha um desejo ardente de que ela fosse Deoris, a minha personagem preferida em A Queda de Atlântida e, talvez, a preferida de todos os universos já criados por Marion, com exceção de Morgana). Mas foi só recentemente que me deparei com uma página na internet falando sobre os livros de Avalon, com vários comentários da autora Diana L. Paxson, que foi auxiliar de Marion Zimmer Bradley enquanto esta ainda estava viva, e que assumiu seu legado Bretão após sua morte. Meus livros preferidos continuam sendo os escritos inteiramente por Marion, mas Diana tem uma mão firme, muito mais ligada à história da Bretanha (que ela conhece a fundo) do que à magia e fantasia, como era com Marion.
Seja como for,
neste site que encontrei Diana disponibilizou uma planilha com a cadeia de
reencarnação dos personagens, iniciando antes mesmo da antiga Atlântida. E pude
dormir em paz, pois não estava louca e Deoris é de fato Morgana, em outra vida,
outro continente, outra história.
Isarma
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Adsartha
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Osinarmen
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Eilantha
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Domaris
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Deoris
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Micon
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Riveda
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Reio-ta
|
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Micail
|
Tiriki
|
Damisa
|
Tjalan
|
|||||
Anderle
|
Velantos
|
Miikantor
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Tirilan
|
Galid
|
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Caillean
|
Eilan
|
Gawen
|
Gaius
|
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Helena
|
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Dierna
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Teleri
|
Carausius
|
Allectus
|
|||||
Viviane
|
Ana
|
Vortimer
|
||||||
Viviane
|
Morgaine
|
Arthur
|
Lancelot
|
Uther
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Igraine
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Mordred
|
Mas retornando
ao livro em si, eu acho interessante como Marion nos mostra uma Igraine
completamente apaixonada por Uther e disposta a estar única e exclusivamente ao
seu lado, a ponto de permitir que seu filho (Arthur) fosse criado por um
vassalo do reino e sua filha (Morgana) fosse levada para a ilha de Avalon por sua
irmã mais velha, para ser treinada e se tornar uma sacerdotisa.
Igraine é uma
mulher que foi criada pela irmã em Avalon, pois a mãe morreu muito jovem, no
parto da outra irmã (Morgause). Aos 15 anos foi oferecida em casamento para um
guerreiro romano, de quem teve Morgana, e depois desposou Uther quando o marido
traiu o Grande Rei e acabou morto. Mas a despeito de todo o seu treinamento na
arte antiga em Avalon, ao se tornar esposa de Uther Igraine abandona a velha fé
e passa a acreditar nos padres e a viver uma vida religiosa como cristã. Ou
assim se parece aos olhos de todos.
Já Morgana é
levada para Avalon aos 11 anos e não há como discutir o poder da garota e a sua
capacidade de se tornar a próxima Senhora do Lago, no lugar da tia. E tudo iria
muito bem, se não fosse o bom e velho problema de comunicação e a crença das
pessoas que não há necessidade de falar as coisas e que os outros irão entender
e agir conforme nossas expectativas, o que nunca acontece.
Viviane é uma
personagem que eu adoro, embora ela tenha sim certas visões de grandeza (e uma
arrogância inerente à pessoa dela e ao cargo que ocupa) e por isso acreditou
que não precisava explicar nada à sobrinha sobre o papel que esperava que esta
desempenhasse no futuro da Bretanha. E é claro que as coisas não deram certo. Eu
creio que Morgana teria sido muito mais receptiva à intenção da tia se soubesse
qual era o seu grande plano. Mas não, Viviane se calou e Morgana, atemorizada e
envergonhada, fugiu do seu destino e, de brinde, acabou com todas as chances de
Avalon vencer a batalha pela sobrevivência dentro da Bretanha cristã.
A partir daqui terão spoilers, porque preciso falar sobre algumas cenas importantes para mim e algumas delas estão nos finais de cada volume.
A minha cena preferida no livro é a coroação do Galhudo, onde o Gamo-Rei toma a Sacerdotisa como sua e casa com a terra e com o povo. Não é a descrição em si que me atrai, mas o que ela representa. E, é claro, a declaração de amor eterno e irrestrito de Arthur à Morgana ao amanhecer. O choque dos dois ao perceberem que são irmãos é avassalador, mas ainda assim eu acreditava no amor de Arthur pela irmã mais velha. Acho que nunca perdoarei Morgana por não usar deste poder sobre ele e deixá-lo ser enredado pela fanática Gwenhwyfar.
O final deste volume me entristece muitíssimo, pois vemos Morgana grávida de Arthur e disposta a abandonar Avalon e tudo o que prezava por vergonha do que fizera. É triste ver que a garota não foi capaz de perceber a intenção da tia e que a ela foi dado o poder de colocar Avalon no trono da Bretanha, mas que ela, por medo, abdicou deste poder.
A minha cena preferida no livro é a coroação do Galhudo, onde o Gamo-Rei toma a Sacerdotisa como sua e casa com a terra e com o povo. Não é a descrição em si que me atrai, mas o que ela representa. E, é claro, a declaração de amor eterno e irrestrito de Arthur à Morgana ao amanhecer. O choque dos dois ao perceberem que são irmãos é avassalador, mas ainda assim eu acreditava no amor de Arthur pela irmã mais velha. Acho que nunca perdoarei Morgana por não usar deste poder sobre ele e deixá-lo ser enredado pela fanática Gwenhwyfar.
O final deste volume me entristece muitíssimo, pois vemos Morgana grávida de Arthur e disposta a abandonar Avalon e tudo o que prezava por vergonha do que fizera. É triste ver que a garota não foi capaz de perceber a intenção da tia e que a ela foi dado o poder de colocar Avalon no trono da Bretanha, mas que ela, por medo, abdicou deste poder.
O segundo volume
é o começo do fim para mim. É quando somos apresentados à Gwenhwyfar, a futura
rainha de Arthur. A jovem agorafóbica, irremediavelmente apaixonada por
Lancelote, entrou na vida de Arthur para tomar o lugar que era de Morgana por
direito e, cada vez mais obcecada e fanática – tinha um fervor cristão recheado
de preconceitos, hipocrisia e misticismo – é a responsável pela cisão entre
Arthur e o povo das tribos, que jurou seguir ao Pendragon e não à bandeira da
Virgem.
Embora Morgana
apareça em quase todo o livro, ela foi relegada ao segundo plano por sua
própria escolha. Deu à luz Gwydion (fruto da entrega de sua virgindade a Arthur)
e o deixou para ser criado por sua tia Morgause, sem permitir que o pai
soubesse da existência da criança e depois foi servir como uma das moças da
Rainha. Passou anos à sombra de Gwenhwyfar até que decidiu retornar a Avalon,
apenas para se sentir indigna de entrar na ilha e acabar na terra das fadas,
onde o tempo corria mais devagar que o mundo real e não havia distinção da
noite e do dia ou mesmo de certo ou errado. Passou mais de quatro anos afastada
do mundo, perdendo a grande guerra que foi profetizada (e pela qual Viviane
uniu Igraine à Uther, e depois Morgana a Arthur), e muito pior, perdendo a
traição do irmão, que um dia jurara fidelidade a Avalon, mas que por
preocupação com a esposa acabou por descer a bandeira do Pendragon e jurou
servir apenas à Virgem.
Doía em meu
coração ver o quanto o medo de Morgana colocou todos os planos de Viviane
abaixo. Ela era a mulher que o Rei amava, a mãe do seu filho, a próxima Senhora
do Lago, e por medo e vergonha teve o filho em segredo, escondeu-o do pai,
permitiu que o irmão se casasse com uma fanática religiosa, abandonou Avalon e
a deusa que jurara servir, e ainda mandou para longe toda e qualquer influência que pudesse ter sobre o
Rei. Arthur chegou a dizer para ela que ainda a desejava (bom, pelo menos
tentou dizer), e ela o impediu de continuar. Sua teimosia e fraqueza
mergulharam Avalon nas trevas e destruíram a vida de Arthur e do seu filho. Não
dá para aceitar uma coisa dessas com tranquilidade.
Outra coisa que me irrita é o amor de
Lancelote e Gwenhwyfar. Sempre achei Lancelote fraco, mas para mim é
incompreensível o seu amor pela Rainha. Ela é fraca, tola, supersticiosa,
casada com o seu Rei, primo e melhor amigo, e mesmo assim ele não consegue
deixar de amá-la. Como pode isso!? O amor é uma coisa muito estranha mesmo.
Arthur eu
compreendo. Ele amava Morgana e nunca poderia tê-la (porque ela mesma fechou
esta porta), casou com Gwenhwyfar por política, mas era leal e honrado, e os
anos ao lado da esposa fizeram dele um marido amoroso e atencioso, que
realmente se preocupava com ela e a sua felicidade, a ponto de aceitar que ela se
deitasse com Lancelote para tentar engravidar. É claro que eu tenho a teoria de
que na verdade o que Arthur (e o próprio Lancelote) queria era uma desculpa
para poder ele mesmo deitar com o primo a quem também amava (e por quem era
amado), mas se é possível unir o útil ao agradável, por que não?
Estou enrolando
um pouco para ler o terceiro volume, pois é o que eu menos gosto. Não porque
seja ruim, mas é que quando penso nos anos de vida que este povo desperdiça por
falta de coragem de se impor e exigir seu lugar ao mundo...toda vez que leio
esse volume eu sinto raiva. Mas vamos ver no que vai dar. Talvez 12 anos depois
eu seja capaz de olhar para as escolhas feitas pelos personagens com um pouco
mais de boa vontade ou até mesmo entendê-los. Só a (nova) leitura dirá.
4 comentários:
Eu li "As Brumas de Avalon" quando tinha uns 16 anos, e nunca mais. Terminando "Precisamos Falar Sobre Kevin..." eu vou relê-lo, sua review me deixou com bastante vontade. Vamos ver qual será meu ponto de vista depois de tanto tempo. Mas duvido que não continuarei detestando a Gwenhwyfar, achando o Arthur um fraco e querendo sacudir a Morgana até a cabeça dela soltar do pescoço. rsrsrs
Li As Brumas de Avalon ainda quando adolescente, gostei dos livros e acho que Brida de Paulo Coelho tem muita inspiração em Morgana e nas Brumas em si.
Mas se me permite sugerir, o 3o livro da saga DUNA (O Imperador Deus de Duna) é simplesmente o MELHOR LIVRO que já li até hoje, e casa bastante com as Brumas, embora tenha uma ambientação diferente (no espaço).
O 3º de Duna foi onde eu parei de ler a série. Estava vendo na livraria...eles estão sendo relançados, né? Talvez eu compre, eu adorei os dois primeiros livros da saga.
Paulo Coelho não se "inspirou" em Morgana para criar Brida, ou em "As Brumas de Avalon" para construir o ambiente de "Brida".
Esses livros são muito parecidos justamente porque falam de um mesmo assunto, algo muito real, inclusive, mas ainda muito pré-julgado. A Magia.
"Real?!" Sim, real.
Muitos mestres, inclusive, indicam para seus neófitos (antes de começar um treinamento magiko pra valer) a lerem As Brumas de Avalon.
A Deusa e o Deus são reais.
Não palpáveis, não construídos à imagem de algo que o homem criou - como por exemplo a religião cristã - mas reais.
Energia e magia.
Para eu, uma iniciada, reler As Brumas é como relembrar de meu tempo pré-neófita, quando minha crença na magia não tinha um rumo ou direção, quando eu acreditava ser uma abominação. Quando me faltavam diretrizes.
Hoje, após muito estudo, esforço, sacrifício e recompensas, posso dizer a vocês: Magia existe.
É real.
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