terça-feira, 6 de abril de 2010

Doctor Who 5x01 - The Eleventh Hour

Doctor Who - The Eleventh Hour (5x01)
Exibição: 03/04/2010
“Amy Pond, você precisa saber de algo importante sobre mim. É importante e um dia sua vida pode depender disso: Eu sou definitivamente um homem louco em uma cabine”.


Doctor Who está de volta e melhor impossível. Bom, sempre é possível melhorar, mas definitivamente não há o que reclamar do episódio de estréia desta nova temporada. Contrariando as vozes lamuriosas da grande horda de fãs que choravam a saída de David Tennant e seu Décimo Doutor, Matt Smith nos apresentou um Décimo Primeiro Doutor completamente excêntrico e que acabou por cativar mesmo os fãs mais aflitos. Na verdade, as vozes que correm por aí afora é a de que The Eleventh Hour trouxe de volta o verdadeiro espírito de Doctor Who.
Sem querer desmerecer David Tennant e seu cativante (e sofrido) Doutor, após quatro anos era chegada a hora de vermos mais uma faceta do Senhor do Tempo. Com Steven Moffat na produção da série e Matt Smith assumindo o papel que já pertenceu a outros dez atores antes dele, Doctor Who iniciou uma nova fase e isso fica evidente já no episódio inicial.
Para os que desconhecem a série (há alguém que ainda não sabe sobre ela!?), em poucas palavras Doctor Who mostra as aventuras de um alienígena conhecido apenas como Doutor. Ele, como todos de sua extinta raça (os Senhores do Tempo) podem ir e voltar no tempo e no espaço. Para isso usa a TARDIS, máquina viva que pode se camuflar em qualquer ambiente, mas que algumas décadas atrás ficou emperrada na forma de uma cabine de polícia azul. Basicamente a série é isso, viajarmos para trás e para frente, para a Terra ou para outros universos, sempre acompanhando o Doutor e quem quer que esteja viajando com ele em sua TARDIS. O diferencial está no fato de que o Doutor não morre, ele regenera com outra face e outra personalidade, mas com todas as lembranças que continuam fazendo dele o mesmo Doutor de sempre.
E é exatamente neste ponto que a nova temporada começa. O Décimo Doutor, após dar a vida para salvar Wilf (em The_End_of_Time_-_Parte_II) regenera mais uma vez. Não sei se porque o Décimo era alguém tão apegado àquela regeneração em particular, mas a energia que o Doutor libera dessa vez é tão poderosa que literalmente quase destrói a TARDIS e o coloca em queda livre para sabe Deus onde. Em um novo rosto e novo corpo ainda desconhecidos para ele mesmo, nós conhecemos o Décimo Primeiro ao mesmo tempo em que a pequena Amilia Pond o conhece. E tudo muda para ela, e para nós também.
O início, com o Doutor ainda descobrindo as manias do seu novo corpo, é delicioso de assistir. A pequena Amilia Pond cozinhando e tentando agradar aquele lunático que aparece todo molhado saindo de uma caixa azul é tão inocente e leve que nos faz lembrar que Doctor Who é sobretudo um programa para a família toda assistir. Não apenas crianças, mas com certeza não apenas adultos. E é por isso que esse episódio foi ainda mais especial, pois ele mesclou de forma magistral o mistério e diversão inocente que agrada qualquer criança (e para isso a pequena Amilia e a excentricidade do Doutor foram peças chave), com uma sensualidade velada e subtextos adultos feitos especialmente para os fãs com um pouquinho mais de idade (mas com um cuidado extremo para não cair na sexualidade barata que se encontra em todo canto nos dias de hoje).
O roteiro, escrito por Steven Moffat (novo produtor da série e o responsável pelos melhores episódios da era Russell T. Davies, em minha opinião) foi muito bem amarrado e ágil. Não o melhor de Moffat até agora, mas bom o bastante para deixar os fãs entusiasmados, e trazer de volta os que se sentiam um tantinho decepcionados com os rumos que a série vinha tomando nas últimas temporadas (o que não era o meu caso).
Mais interessante do que a ameaça à raça humana da qual o Doutor nos salva (e aqui vale dizer que não sei quem era pior para nós, o Prisioneiro Zero, que se escondeu na casa de Amy por longos doze anos e pouco fez que fosse do nosso conhecimento, ou se os Atraxi, que estavam dispostos a destruir a Terra para eliminar o Prisioneiro), foi a forma como os personagens foram apresentados em The Eleventh Hour. Desde o natal de 2005 não precisávamos conhecer um novo Doutor, e mesmo naquela época apenas ele era o elemento estranho na série. Agora, tudo era novo. Não tínhamos um único personagem que nos remetesse às temporadas passadas. E por incrível que pareça, não fez a menor diferença. O episódio foi tão Doctor Who, que por momento algum eu senti alguma estranheza. Era tudo tão familiar, apesar dos rostos diferentes e o Doutor continuava sendo tão ele mesmo, que a única coisa que consegui fazer de verdade foi sorrir feito uma tola durante o episódio inteirinho.
A química entre o Doutor e a nova companheira foi excepcional. Os dois funcionaram muito bem juntos. E é curiosa a forma como ele moldou a vida da garota sem nem ao menos perceber. Ao aparecer no meio da noite na casa de uma Amilia Pond ainda criança e mostrar toda uma nova realidade para ela, o Doutor acabou por criar a pessoa que Amy seria no futuro. Totalmente inconseqüente nos seus primeiros minutos pós-regeneração, o Doutor não teve a menor noção de que os cinco minutos que pediu para a garota esperar que ele voltasse, acabaram por serem doze longos anos. Período em que ela se sentiu abandonada, esquecida, louca, e ao mesmo tempo especial por ter conhecido um homem que viajava no tempo em uma pequena cabine de polícia azul, mas que ela nem ao menos tinha certeza se era real.
O reencontro dos dois foi épico. Totalmente alheio ao tempo que ficou longe, o Doutor invadiu a casa crente que a garotinha estava por ali, esperando por ele. E, bem, Amy de fato estava ali, mas de garotinha ela não tinha mais nada.
Eu achei de muito bom tom esta transformação que a personagem sofreu. Pudemos conhecer a garotinha inocente, que não tinha mais os pais, vivia com a tia e que depositou toda a sua confiança em um estranho meio maluco que apareceu no meio da noite caído do céu, e por isso fez tanto sentido quando vimos a jovem auto-suficiente que Amy se tornou doze anos depois. Muito boa a cena em que ela se passa por uma policial enquanto mantém o Doutor algemado. E a forma como ela se revela a ele...perfeita. Doze anos realmente é um longo tempo para se esperar por alguém. É engraçado isso, não? As outras companheiras criaram seus laços com o Doutor enquanto conviviam com ele, mas Amy teve doze anos para que a aparição do Senhor do Tempo moldasse sua vida, sem nem ao menos tê-lo ao seu lado por todo esse tempo. Apesar disso (ou talvez, por causa disso) os dois se encaixaram perfeitamente.
O mais curioso é que o Doutor é tão sem noção, que ao deixá-la ao final do episódio para voltar logo em seguida, ele consegue chegar dois anos depois. Mas ela o segue mesmo assim. A grande dúvida é: conseguirá o Doutor trazê-la de volta antes do seu casamento? Aliás, como ela teve coragem de segui-lo sabendo que ele é horrível com datas exatas?
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Algumas observações:
* Amy levantou alguma polêmica entre os britânicos mais conservadores. O fato da garota ser uma Kissogram (embora eu tenha cá comigo a impressão de que no fundo Moffat queria fazer de Amy uma stripper, mas não se atreveu devido ao público alvo de Doctor Who), usar uma saia micro e ainda ter o ‘topete’ de ficar olhando o Doutor se trocar (enquanto Rory decentemente olhava para o lado) fez com que algumas pessoas torcessem o nariz para a ‘sensualidade exacerbada’ do episódio. Eu particularmente acho essas alegações sem fundamento. Amy é espirituosa, jovem e sofreu grandes perdas na vida, o que fortaleceram o seu caráter e sua forma de agir diante do mundo. Ela é uma garota que sabe o que quer e como se impor. A sensualidade do episódio foi bastante velada e, como eu já mencionei, mais subentendida do que explícita. Algo para adulto compreender, não criança. Não sei como é o acesso dos jovens ingleses ao conteúdo impróprio, mas nossas crianças vêem coisas muito piores na TV todos os dias.
* Doctor Who é uma série ateísta. Interessante como isso se manifesta na oração de Amy ao Papai Noel e não a Deus.
* A TARDIS tem uma biblioteca e uma piscina! Certo, a TARDIS tem de tudo, mas é tão legal quando ouço os personagens mencionando as coisas que podem ser encontradas lá dentro.
* O Doutor tem uma nova Chave de Fenda Sônica, e desta vez ela é verde.
* A TARDIS está novinha em folha, e faz todo sentido ela ter se transformado. Achei muito legal como ela se destruiu com a regeneração do Doutor e como levou tempo se reformando. O mais interessante foi o Doutor não poder acessá-la enquanto ela se reconstruía.
* Com a nova TARDIS, o Doutor finalmente começa a abri-la com um estalar de dedos, como River Song mencionou no episódio “Forest of the Dead” (também escrito por Moffat).
* Lindíssima a música que toca enquanto Amy entra na TARDIS pela primeira vez. A trilha sonora desta série sempre me surpreende pela qualidade. Aliás, fico agradecida que Murray Gold tenha continuado responsável por ela.
* Enquanto o Doutor ameaçava os Atraxi deixando bem claro que a Terra tinha um defensor, então era melhor eles não ficarem zanzando por aqui achando que podiam fazer o que bem entendessem no terreno dos outros, foi mostrado brevemente a face de cada uma das regenerações do Doutor, bem como algumas cenas da série. Foi uma forma de unir o Décimo Primeiro a todas as outras regenerações que conhecemos ao longo das décadas. O rosto pode ser diferente, algumas atitudes também, mas ele é e sempre será o Doutor. E cá entre nós, foi uma belíssima homenagem. Fiquei encantada com a cena.
* Eu queria falar algo sobre Rory, mas sinceramente não sei o que dizer. Eu achei uma graça o personagem e espero de verdade que ele volte a aparecer e quem sabe até a viajar com o Doutor. É com ele que Amy irá casar? E por falar em casamento, o medo geral é de que Amy e o Doutor venham se envolver. Eu particularmente não me importo, desde que não seja algo de ‘amor verdadeiro e razão da minha existência’.
* A pergunta que Amy faz é procedente: por que ela? Algo me diz que não é casual a escolha do Doutor. Não é a simples solidão que o fez escolhê-la para acompanhá-lo.
* Parece que Moffat manterá o link sutil entre os episódios da temporada. “The Silence Will Fall”, essa foi a última frase do Prisioneiro Zero ao Doutor. O que ele quis dizer? A curiosidade, como era de se esperar, já me corrói.

3 comentários:

naomi disse...

awww, eu *tenho* de ver isso!

Mica disse...

Sim, Naomi, vc tem, hehehe.

Rita Maria Felix da Silva disse...

Mica, adorei o review.
Muito bom.

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