Sinopse: Buscando tempo e espaço para descobrir quem era e o que realmente queria, Liz Gilbert se livrou de tudo, demitiu-se do emprego e partiu para uma viagem de um ano pelo mundo - sozinha. Comer, Rezar, Amar é a envolvente crônica desse ano. Fala sobre o que pode acontecer quando você assume a responsabilidade por seu próprio contentamento e para de tentar viver seguindo os ideais da sociedade.
Título: Comer, Rezar, Amar
Autora: Elizabeth Gilbert
Alguns livros entram na sua vida na hora certa. Foi o que aconteceu comigo com Comer, Rezar, Amar, da jornalista e escritora Elizabeth Gilbert. O filme rondou o cinema por meses, mas em momento algum eu tinha me interessado por ele, então passou por mim de largo. Entretanto uma amiga em cujos gostos literários eu geralmente confio disse tê-lo lido recentemente e me emprestou o livro. Fiquei surpresa e grata por ser tão gostoso de ler.
Liz Gilbert é uma mulher comum e tem problemas como todas as pessoas normais. Eles não são grandes ou únicos demais – aquela coisa do dia a dia, divórcio, vida sentimental em frangalhos, falta de confiança, depressão, solidão e por aí afora – tampouco são insignificantes, muito pelo contrário, eles refletem as angústias diárias de praticamente todo ser humano. E é por ser tão comum que é tão fácil identificar-se com Liz. Ela não tenta nos vender sua visão da vida ou nos fazer acreditar que tem a fórmula para uma vida de sucesso. Não, ela simplesmente descreve seus horrores, seus medos e como tenta desesperadoramente sair de um círculo de dor e sofrimento angustiantes com todas as suas formas. E nesse meio tempo ela aprende a ser um ser humano feliz e totalmente sem esperar nos damos conta de que também queremos e podemos buscar por esta felicidade.
Li Comer, Rezar, Amar aos poucos, algumas páginas por dia. Era delicioso percorrer o caminho junto com Liz, vê-la destruída, juntando seus caquinhos e tomando as rédeas de sua vida. Fazia com que eu percebesse que as coisas também podem mudar na minha vida. Não precisa ser da mesma forma que ela, não preciso ir para a Itália, para a Índia e a Indonésia (mesmo porque não tenho uma editora para me pagar antecipado, possibilitando a minha viagem), mas posso fazer algo aqui e agora para esvaziar o meu coração e minha mente desta corrente viciosa e pútrida que inevitavelmente se aloja em meu interior e tomar passos em direção a um futuro mais brilhante onde eu seja a senhora do meu destino e não a passageira em um trem desgovernado.
Tive experiências agradabilíssimas lendo o livro, conhecendo as dores de Liz, analisando as minhas e vencendo muitas coisas junto com ela. Liz é uma mulher muito divertida e que gosta de se relacionar e os traços de sua personalidade ficam bem explícitos nas páginas do livro. É engraçado ver como cada momento de sua vida nos traz experiências diversas e reações diferentes à leitura.
Amei toda a sua trajetória na Itália, sua paixão por Roma e sua imersão curativa nos prazeres singelos da carne (comer, conversar, viajar, contemplar). Enquanto lia esse trecho eu passei por um momento não muito agradável e confiante na minha vida e vi refletidos nas palavras da autora o meu desespero. Curiosamente fui consolada pelas palavras que ela disse para si mesma e que totalmente sem eu esperar, deram-me um novo sopro, um novo ânimo. Roma foi bela para Elizabeth e para mim.
Já a Índia foi completamente diferente. Irritante no início, meio cansativo até, acabou por mexer com o turbilhão que passava dentro de mim. Situações diferentes das que a autora vivenciava, mas que traziam sensações parecidas. Na Índia Liz aprende a se acalmar, a aquietar a mente e o coração. Não digo que eu tenha chegado lá, mas é uma idéia interessante para se colocar em prática.
A Indonésia foi a viagem com a qual eu menos me empolguei. Talvez porque não me identifique com a idéia de uma viagem em busca de conhecimento espiritual com um xamã, ou talvez seja simplesmente porque não me senti conectada com o romance de Liz com o brasileiro Felipe. O homem consegue tirá-la da inércia amorosa e chacoalhar todas as suas convicções e destravar os seus medos, e eu, enquanto lia, achava tão sem graça...
Mas também pode ser a terceira hipótese: enquanto acompanhei as outras viagens aos poucos, lendo apenas algumas páginas por dia, a Indonésia li tudo de uma vez. Foram mais de 120 páginas em uma única tarde. Talvez por isso a minha experiência não tenha sido tão gratificante.
Mesmo assim, gostei muito da amizade de Liz com Wayan e como a mulher toca a vida da americana a ponto de fazê-la movimentar-se para conseguir uma casa para a mulher e sua família. Agora estou curiosa para saber como ficou a vida da autora depois de sair de Bali.
No final, foi uma experiência única e muito prazerosa. Gostei tanto que até decidi assistir ao filme, apesar de ter ouvido (e lido) críticas nada favoráveis (não consigo mesmo imaginar Julia Roberts como Liz Gilbert. Tampouco creio que as tiradas bem humoradas da mente de Liz possam ser transpostas com propriedade para a tela grande).
A minha maior reclamação é que o livro não traz fotos das viagens. Só conhecemos Liz pela fotinho promocional na orelha do livro.
Então, é claro que tão logo terminei o bendito, corri para a internet para saber mais informações sobre a autora e, quem sabe, conseguir algumas fotos das viagens. O legal foi assistir a uma palestra que ela deu para a TED.com. Foi a confirmação de que ela é exatamente como eu a imaginava ser.
*********** O FILME ****************
Ao filme falta o carisma do livro. Tudo é apressado demais. Não temos tempo de sofrer junto com a personagem o fim do casamento e tampouco a experimentar a paixão frenética e obsessiva com David. Os acontecimentos são ralos, assim como sua decisão de viajar.
Roma, que no livro (e, imagino, na vida real) é uma ode ao prazer, à comida e às novas experiências, no filme parece fraca e confusa. Não dá para olhara para Elizabeth e sentir o êxtase de partilhar uma excelente refeição, sentar em uma praça ou conversar com os amigos. Ela parece apenas perdida, confusa, sofrida.
A Índia é um pouquinho melhor, mas não traz aquela sensação de iluminação que o livro traz. Mas talvez seja culpa da Julia Roberts. Percebi que a atriz consegue demonstrar o sofrimento da personagem de forma magnífica, mas não passa a luz que irradia de Liz, a risada fácil, os amigos que reúne ao seu lado como abelhas no mel. À ela falta a diversão e a tranqüilidade de Elizabeth, restando apenas a expressão penitente e solitária da personagem, mesmo quando tenta, com narrativa em off, imprimir alguma alegria ao que vivencia.
E por incrível que pareça, a parte mais divertida e gostosa de assistir foi Bali, na Indonésia. A sua contraparte literária não me agradou muito, por isso fiquei surpresa ao me interessar por ela no filme. Talvez tenha algo a ver com o Javier Barden (sensual até o último poro) interpretando o brasileiro Felipe (que no livro tem 52 anos, enquanto o Javier tem na verdade 40). Interessante que há dois brasileiros na história, Felipe (interpretado por um espanhol e que fala o português obviamente com sotaque) e Armênia (interpretada por uma cubana)e nem um atorzinho brasileiro para nos dar alguma alegria. E é aqui que Julia Roberts finalmente demonstra um pouquinho de alegria naquele rosto choroso e dá até para começar a simpatizar com a sua Elizabeth.
Se o filme vale a pena? Bom, é interessante como comparativo para quem leu o livro, embora bem inferior. Para os que não leram eu não sei dizer. Ele me parece meio apressado, sem conteúdo real. É só o passeio da mulher por três lugares diferentes do globo e um homem realmente atraente no final que faria qualquer uma abandonar o celibato. Mas talvez sim, valha a pena assistir.
Um comentário:
cara, que resenha matadora! até me deu vontade de ler o livro, algo que não estava muito a fim de fazer, mas a sua relação pessoal com ele é algo que não pode ser replicada, é uma experiência única.
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