Sinopse: Uma nova onda de assassinatos volta a perturbar a população de Miami. Os corpos são encontrados carbonizados e decapitados (e com uma cabeça de touro no lugar). É assim que o mais novo serial killer da cidade consegue provocar Dexter. Porém, desta vez, Deborah terá que desvendar esse mistério sozinha, já que o Passageiro Sombrio, a voz que instiga e dá animo à Dexter, desaparece, deixando-o completamente no escuro.
Livro: Dexter in the Dark
Autor: Jeff Lindsay
Editora: Doubleday
Nº de Páginas: 302
No início de 2011 eu li os dois primeiros livros de Dexter (resenha aqui e aqui) e comecei 2012 terminando o 3º livro. Mas que fique registrado que esse negócio de ler os livros e assistir a série de tv dá um nó na cabeça de qualquer um. Enquanto na série Dexter já casou, enviuvou, criou sentimentos entre outras coisinhas mais (afinal, já se foram 6 temporadas), aqui no 3º livro Dexter ainda está planejando seu casamento, seus enteados são sociopatas e serial killers em treinamento, e sua irmã sabe muito bem o assassino que Dexter é. Aliás, já sabe desde o primeiro livro.
E também tem o fato que tv e livro não tem grandes ligações. Certo, Dexter é Dexter, sociopata e assassino, Deborah é sua irmã, Rita sua esposa, Astor e Cody seus enteados e Masuoka seu colega e perito criminal (sim, Deborah e Masuoka, não Debra e Masuka como na tv), mas fora isso, as coisas não são muito parecidas. Os casos na série de TV, assim como o próprio rumo da vida dos personagens já se afastaram dos livros lá no primeiro e não voltam a se cruzar, com exceção de um ou outro detalhe que possa servir de inspiração.
No 2º livro Dexter se viu enredado em sua farsa e quando percebeu estava noivo de Rita. Aqui, ele precisa lidar com as dificuldades que a organização de um casamento traz, ao mesmo tempo em que perde aquele que sempre foi o seu Norte: o Passageiro Sombrio. Isso, justamente quando um caso particularmente perturbador assola Miami e, para total desespero de Dexter, ele não tem a menor ideia de qual seja a intenção do novo serial killer, já que sua voz interior o abandonou.
Este 3º livro é muito bom, mas eu fiquei um pouco incomodada por dois motivos. O principal deles é que eu tinha a sensação de já ter lido o bendito. Isso aconteceu comigo em The Alton Gift, mas ali eu acabei descobrindo que eu de fato já tinha lido (só não tinha marcado), mas não consegui confirmar a leitura ou não de Dexter in the Dark. Eu tinha quase certeza que não li, pois os dois primeiros eu li ano passado e então deixei o último para depois. Não tinha nada marcado em lugar algum, mas... embora eu não lembrasse com detalhes do final, eu sabia tudo o que aconteceria. Cheguei a pensar que eu já tinha visto o caso na série de TV, mas olhei temporada por temporada e nenhuma abordou o deus Moloch. Ou seja, minha lembrança é do livro mesmo (ainda mais que eu lembro de certas frases e diálogos e a forma como foi escrita).
Como eu posso ter lido um livro ainda em 2011 e não lembrar!?? Algo está realmente errado por aqui...
Seja como for, a outra coisa que me incomodou (e lembro que me incomodou da outra vez que eu li, vi, ou seja lá o que foi que aconteceu que me fez conhecer a história antes) foi essa separação entre Dexter e seu Passageiro Sombrio. Na série de TV Dexter vê e fala com o seu pai já morto. Mas nós sabemos, e ele também, que é tudo uma manifestação do próprio inconsciente de Dexter. Harry não está ali de verdade, apenas parte de sua consciência fala com ele e discute as situações de forma que ele possa ponderar o que deve ou não fazer. O seu Passageiro Sombrio até é mencionado, mas também como parte deste instinto assassino que o personagem tem.
No livro não. Por algum motivo o autor deu um tom meio sobrenatural à coisa. Dexter existe e dentro dele também existe o Passageiro Sombrio e é o Passageiro que o instiga a matar, proporciona a clareza do raciocínio e também o faz reconhecer outros semelhantes para que possa caçar e mantê-lo satisfeito. E neste livro, o Passageiro desaparece ao entrar em contato com a cena de um crime particularmente interessante: duas jovens queimadas e com as cabeças desaparecidas, com as cabeças de dois Touros cuidadosamente colocados em seus lugares.
Sem a ajuda do instinto do Passageiro Sombrio, Dexter fica à mercê de sua própria inteligência, da sua pesquisa, dos seus sentimentos (medo e fragilidade humana) que subitamente começam a aparecer. Como se tudo não fosse o suficiente, seus enteados estão cada vez mais ansiosos para iniciarem o aprendizado que apenas Dexter e sua 'sombra' poderiam lhes dar.
Deborah também não está muito satisfeita, já que Dexter carece de suas sugestões particularmente perceptivas das mentes dos assassinos, afinal, ele se sente abandonado pelo seu Passageiro Sombrio e está no mesmo barco que a irmã, lutando com suas próprias forças e ideias.
A história foi bem feita, os personagens são motivados, mas não gostei desta separação entre Dexter e seu Passageiro. Muito menos a sugestão de que o Passageiro Sombrio fosse a atuação direta de Moloch (um deus/demônio adorado pelos amonitas há milênios, com cabeça de touro e para quem eram feitos sacrifícios de crianças). O livro não te dá completa certeza de que o Passageiro seja de fato Moloch, mas as pistas são tantas que é difícil acreditar que não seja.
Outra coisa é que o livro, embora seja em sua maioria visto em primeira pessoa, também traz em alguns momentos outras duas visões: a do Watcher, um dos seguidores de Moloch e que estava designado para seguir e observar Dexter, e a do próprio Moloch, ou melhor dizendo, a entidade chamada de 'Isto' no livro.
Desde o primeiro livro Jeff Lindsay já introduzia esses elementos meio sobrenaturais, com sonhos e percepções um tanto quanto fantásticas da parte de Dexter, mas em Dexter in the Dark ele extrapolou. Eu particularmente não gostei. Não estraga o livro ou mesmo o personagem, mas acho desnecessário, já que estamos falando de um assassino em série que foi criado do trauma e treinado como um anjo vingador. O puramente explicável já é bastante interessante e diferente, não há esta necessidade de toques sobrenaturais.
E mais uma vez o autor comete o mesmo defeito do livro anterior: a trama se desenrola com calma e tranquilidade, tudo ocorrendo ao seu tempo e de repente chega o final e o autor corre desenfreado rumo a uma explicação. Eu li 285 páginas sem problemas, não ia morrer por ler mais umas 50 desde que a trama se fechasse a contento. Mas não, o autor corre nas últimas 15 páginas para criar a situação onde o assassino será desvendado, vencido e ainda restar tempo para Dexter resolver seu problema com o Passageiro Sombrio fujão.
O final não me satisfez. Definitivamente não fechou a contento o livro, o que é uma pena.
E só para comentar uma coisa, é interessante que vemos Rita apenas sob o ponto de vista de Dexter. Ele não sabe o que é o amor, apenas age conforme imagina que as pessoas agiriam. Então nós vemos todas as atitudes de Rita, tentando organizar o casamento, aproximar os filhos, entender o noivo, sempre através dos olhos de Dexter, que tudo o que enxerga é uma mulher com pedidos meio malucos e que o impedem de fazer o que realmente queria: caçar vidas (ou no caso, descobrir o que acabou assustando o Passageiro Sombrio a ponto dele o abandonar). E mesmo que eu saiba que Rita é perfeitamente normal, é impossível não achá-la chata demais, porque eu a estou absorvendo sob o ponto de vista do Dexter. Não que ele a ache chata, mas a forma desapaixonada e obrigacional com a qual ele a analisa e à sua situação, inevitavelmente me dá esta visão da personagem.
Bom, Dexter in the Dark já foi lançado no Brasil com o título Dexter no Escuro, pela editora Planeta do Brasil, assim como suas próximas duas sequências (as quais eu ainda não li): Dexter, Design de um Assassino e Dexter é Delicioso. Estão na minha lista. Já que comecei, vamos até o fim.
Um comentário:
Olá
Concordo completamente com a avaliação do 3º livro, porquê o sobrenatural??? Não é necessário, achamos nós. Acho que a série TV Dexter foi tão bem conseguida, que os livros se tornam banais ou menos interessantes por comparação. Enerva-me a opinião que Dexter tem dele próprio, é sempre tão perfeito e tem tiradas fantásticas (no ponto de vista dele, acho eu :) Acho curioso que ele se ache tão bem integrado e não perceba a atracção das mulheres por ele, ou que ache que camisas havaianas são o último grito da moda... bem, gostos! E acho forçado que os enteados dele sejam ambos psicopatas - ou o Cody seja um verdadeiro psicopata e a Astor o siga... Nem todos os que sofreram violência psicológica se tornam psicopatas, mas quase que parece a afirmação.
PS: Acho o 2º volume completamente macabro e assusta-me o autor por detrás do mesmo!!!
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