terça-feira, 30 de outubro de 2012

Desafio Literário 2012: Rabibi

Sinopse: Habibi pretende ser a saga de dois escravos fugitivos, unidos e separados pelo destino, vivendo no limite que separa a tradição da descoberta. Dodola, uma garota perspicaz e independente, foge de seus captores levando consigo um bebê. Eles crescem juntos no deserto, sozinhos em um navio naufragado na areia. Em meio a sentimentos cada vez mais conflitantes, os dois passam o tempo contando histórias. Assim, os leitores são apresentados também à origem do islamismo e de suas tradições, conforme as narrativas se combinam numa trama de aventura, romance, filosofia e tragédia.

Livro: Habibi
Autor: Craig Thompson
Tradutor: Erico Assis
Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 672

O tema do desafio literário deste mês de outubro é Graphic Novel. Embora eu seja uma fã de quadrinhos em geral, penei para decidir o meu título. Acabei escolhendo Rabibi bem por acaso. Um dia passava pela livraria na hora do almoço e vi o livro ali, dando sopa, e resolvi folhear. 

O livro é enorme, mas tem uma arte gráfica belíssima e chamou a minha atenção. Acabei sentando em um dos pufes da livraria e iniciei a minha leitura. É um pouco vergonhoso admitir isso, mas a verdade é que não comprei Rabibi, eu o li na livraria, cada dia um pouquinho. Aproveitava os meus horários de almoço e o final de expediente (e a alegria da livraria ser bem em frente do escritório onde trabalho) para ler algumas (muitas) páginas do livro.

Até começar a leitura eu não tinha a menor ideia do que o livro se tratava. Eu não conhecia o autor e tampouco sabia que ele escrevera Retalhos e Carnet de Voyage (e muito menos tinha lido algum desses títulos). Por consequência, não sabia que ele tem uma predileção por esses temas polêmicos e bastante sérios, apesar de usar de uma linguagem bem lúdica e que emana simpatia em seus textos e desenhos.

Li em algum lugar por aí que o autor levou cerca de 8 anos para criar Habibi e que, acima de tudo, estava escrevendo uma história de fantasia. Que se vê primordialmente como um cartunista, por isso, por mais sério que sejam os temas de seus quadrinhos, ele é sobretudo um quadrinista e, como tal, é aos leitores de quadrinho que pretende agradar (e não aos intelectuais que esperam que uma graphic novel seja uma obra literária completa e sobremaneira profunda). É claro que eu estou dando a minha interpretação (e o meu colorido) ao que ele falou na entrevista que eu li, mas é mais ou menos por aí mesmo.

Quanto a mim, fui surpreendida positivamente com o livro. A história é de fato um conto de fadas, seguindo a vida de dois escravos (uma branca e um negro), passando por seus diversos relacionamentos...irmãos, mãe e filho, companheiros, amantes.... Ao mesmo tempo, dá pinceladas da criação do islamismo, utilizando-se de verdades e mitos (algumas bem discerníveis, outras nem tanto) e não é por acaso que é dito que o autor se inspira nas Mil e Uma Noites. A vida de Dodola e Cam (mais de Dodola do que de Cam) é permeada de histórias, contos e estratégias. Passo a passo Dodola usa de suas histórias para explicar a escrita e a religião, incutindo no pequeno Cam a moral e a fantasia.

A história em si se passa nos dias atuais, mas é bem difícil lembrar deste detalhe. Como tudo acontece primordialmente em um deserto ou no palácio de um sultão, permeado de contos sobre Abraão, Ismael, Moisés, Maomé, a tendência é esquecermos que Dodola e Cam estão no aqui e agora. Quando nos deparamos com motos, máquinas de construção, edifícios e outras modernidades, chega a dar um choque. Sem falar que a própria escravidão e o harém parecem coisas tão antigas que é difícil situá-las no nosso presente, o que me faz pensar o quão pouco eu conheço a vida desta região da Europa e África.

O livro desperta esta curiosidade dentro de nós, o que é algo legal e deve ser explorado. Aliás, a quantidade de informação que o autor descarrega nas 672 páginas é tamanha, que uma segunda ou terceira leitura é algo muito recomendado (em especial se você leu aos pouquinhos sentada no pufe da livraria...).

Mas nem tudo são flores. Algumas coisas me incomodaram na leitura, em especial o sentimento obsessivo dos dois personagens, a alteração paulatina, mas consistente do relacionamento entre eles, entre algumas outras coisinhas aqui e ali. Não são defeitos da história, de forma alguma, são incomodações pessoais, muito pessoais, que desagradaram e mim, como pessoa, e não depõem contra a qualidade da graphic novel.

Esse é um dos motivos pelo qual  me agrada tanto participar do Desafio Literário. Esta oportunidade surgida da obrigação, de conhecer coisas novas, temas diferentes, livros que jamais passariam pelas minhas mãos se não estivesse me esforçando para cumprir todos os temas mensais propostos. É inevitável a sensação de que o horizonte está se alargando e novas possibilidades de repente estão surgindo para mim como leitora, e isso é uma coisa que não tem preço.

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2 comentários:

Vivi disse...

O livro parece lindo. A capa é um primor. A julgar pelo seu comentário, a história traz uma riqueza de conteúdo bem considerável. Amei a sua experiência de leitura, pois ler em livraria é um hábito meu. Adoro mesmo tais incursões.

Mica disse...

Eu costumava ler muito em livraria, Vivi, mas por aqui as livrarias não tem um espaço muito convidativo. São lugares meio apertados, onde você não pode sentar e folhear algumas páginas sem ser incomodado e ter que sair para não atrapalhar outros clientes e tal.
E isso que achei uns pufes perdidos...(mas nem são daqueles pufes macios, feitos para leitura, são mais aqueles pufes de descanso de pé ou banquinho) Ou seja, as livrarias daqui ainda não aprenderam que um lugar para leitura é tão importante quando os livros disponíveis...sempre chama mais cliente.

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