Autora: Charlaine Harris
Editora: ARX
Nº de páginas: 336
O segundo livro da série Sookie Stackhouse (resenhei o anterior aqui) é bem superior ao primeiro. Eu gostei desde o princípio, mas é notória a evolução da narrativa. Já a tradução, desta vez feita por Índigo, não é muito melhor do que a feita pelo seu predecessor. A capa, entretanto, é belíssima, com o hotel e todas as suas nuances e sutilezas (embora eu ache que ela combinaria ainda mais com o quarto livro, e não com esse). Não tenho a menor dúvida de que as melhores capas da série de livros são os primeiro e segundo volumes. Nunca me conformarei com a capa genérica assumida a partir do 3º livro.
Quem assistiu True Blood pode pensar que sabe o que virá no livro. Não se engane. É verdade que a segunda temporada da série se inspira no segundo livro, mas é só isso, uma inspiração. As coisas são bem diferentes por aqui, bem mais do que em Morto Até o Anoitecer.
Sabem aquela história de Godric, o maker de Eric, arrependido e que decidiu ir em direção ao sol? Esqueça. Iremos conhecer o maker de Eric sim, mas bem para a frente nos livros e ele não é Godric. Tampouco é lindo e parecido com o Allan Hyde.
Outra grande mudança foi toda a história de Maryann, das orgias e de Tara. Aliás, Tara é uma das personagens que mais sofreu alterações na transposição do livro para a tv. Esqueça a mulher negra, revoltada com a vida, com a mãe, com o mundo que você conheceu em True Blood. A Tara dos livros demora um pouco para funcionar como personagem, mas sua personalidade e sua relação com Sookie com certeza são muito diferentes e, ouso dizer, melhores.
Mas chega de comparações. Falemos do livro, que é afinal o que importa no momento.
Vampiros em Dallas mescla três histórias: as investigações da morte de Lafayette logo no início do livro, a vinda de uma mênade para Bon Temps exigindo tributo dos seres sobrenaturais e usando Sookie como 'mensageira' (leia-se 'atacando a garota até quase a morte') de suas intenções para Eric, e a viagem de Sookie e Bill (e de Eric disfarçado) para Dallas em uma tentativa de resgate de um dos vampiros que havia desaparecido do ninho.
O interessante é que as três histórias são bem díspares e mesmo assim se encaixaram muito bem. Para tentar descobrir quem matou Lafayette, Sookie utiliza o seu dom de telepata (que vem se desenvolvendo com a ajuda de Bill), vasculhando aqui e ali. E é este mesmo dom que a leva à Dallas, emprestada por Eric (com quem fez um acordo no livro passado) ao Xerife da área 6. É em Dallas onde ocorre a maior movimentação do livro. A Irmandade do Sol, aqui muito mais fanática e menos agradável aos olhos do que sua versão televisiva, tem um espião infiltrado no ninho vampírico, e com isso eles tem conhecimento da chegada de Sookie, bem como de sua visita à sede da Irmandade. Por conta disso, Sookie é capturada e quase estuprada.
Eis uma coisa que gosto na Sookie, ela não se entrega sem uma boa luta. Se fosse para apenas ser surrada, a garota até poderia ter ficado passiva, desde que isso conseguisse tirá-la dali, mas ela jamais arriscaria a vida ou se deixaria ser estuprada sem empenhar todas as suas forças para se salvar. É bem verdade que no fim acabou tendo uma ajudinha de Godfrey, o vampiro traidor que havia se unido à Irmandade para ir de encontro ao sol diante de testemunhas, mas o que vale mesmo é que ela deu tudo de si não apenas para se salvar, mas também para tentar manter o traidor humano (aquele que a vendeu para a Irmandade) vivo.
Com uma mãozinha de Godfrey e de outros seres sobrenaturais (shifters - aqui traduzidos como mutantes - e lobisomens), Sookie conseguiu escapar da sede e voltar para o ninho dos vampiros da Área 6.
Essa é uma parte do livro que realmente vale a pena. A forma como ela conhece os novos seres sobrenaturais e a animosidade entre eles, a organização e como se protegem para não serem expostos ao mundo soou bem natural.
Vejo inúmeras pessoas reclamando que a série de tv tem muitos personagens e é verdade. Mas os livros também têm, a diferença está na maneira que Charlaine Harris usa para introduzir seus novos personagens, quer sejam sobrenaturais ou não. Sempre é bem natural e até lógico no meio do universo criado, não ficamos com aquela sensação de superpopulação, muito pelo contrário. É como na vida real, que conhecemos pessoas todos os dias, algumas permanecem em nossas vidas, enquanto outras ficam apenas por dias ou semanas e depois tomam o seu rumo.
Outra parte que gosto muito é quando Sookie vai assistir Godfrey suicidar-se. O vampiro com cara de criança era um monstro e ainda por cima pedófilo, mas ele a salvou num momento que poderia tê-la ignorado e esse pequeno gesto valeu para que ela o acompanhasse nesse momento tão importante para ele.
Se você assistiu True Blood, esqueça a bela cena entre Eric e Godric no telhado, ela não existe aqui, já que Godfrey não é o maker do vampirão viking. Mas a cena é bonita mesmo assim.
Outra coisa que a série introduziu e que não existe nesta parte do livro é Lorena, a maker de Bill. Todo aquele clima no hotel, o sangue saindo pelos poros enquanto ela o mantinha acordado para não salvar Sookie é criação da série, assim como a humilhação que o Xerife da Área 6 a faz passar na mansão.
E por falar na mansão, ficou muito boa a parte em que Sookie vai até o Xerife relatar os acontecimentos e acaba bem no meio do ataque da Irmandade à mansão. Foi particularmente prazeroso ver Eric salvando a telepata (e ela sugando as balas para fora do corpo dele) e o contraste do cuidado que o vampirão louro teve com Sookie da displicência que Bill teve na mesma ocasião. Enquanto Eric cobria a garota com o seu corpo para salvá-la (e com outras intenções também, diga-se de passagem), Bill saiu à caça dos humanos responsáveis, matou a todos que encontrou e adorou cada segundo da experiência. E ainda teve a audácia de ficar bravo por saber que ela sugou as balas de Eric! As mesmas balas que só estavam ali porque ele se jogou sobre ela para salvá-la.
De volta à Bon Temps as coisas não ficaram mais tranquilas, já que havia um assassino para ser descoberto. Como Bill precisou se ausentar da cidade, Sookie pediu que Eric a acompanhasse em uma orgia sexual que deu um jeito para ser convidade, no intuito de vasculhar as mentes e descobrir quem havia matado Lafayette.
Esta é uma parte que eu senti muito a mudança do livro para a tv. Primeiro porque aquele bacanal grotesco da tv felizmente não acontece no livro. É uma orgia sim, mas uma orgia bem humana, do tipo que, imagino eu, não seja tão difícil de encontrar por aí. Segundo - e principal - porque a tv nos privou de ver Eric de calça spandex azul e top tank rosa (ou o inverso, não lembro) aguçando a libido de todos na tal festa.
Eis outra coisa que os livros fazem muito bem: construir aos poucos e bem naturalmente a intimidade entre Sookie e Eric. Ela é apaixonada por Bill sim, mas não é imune aos encantos do vampiro nórdico (e quem é!?).
A mênade aparece no meio da orgia, se alimenta da festa, da bebida e da loucura de todos, levando praticamente todo mundo à morte, mas pelo menos Sookie (e Andy Bellefleur) descobrem quem matou o cozinheiro do Merlotte's.
E Vampiros em Dallas termina de uma maneira bem peculiar: Bill descobrindo que os Bellefleur são seus descendentes. Pode parecer pouca coisa, mas para quem vem acompanhando o desenvolver da vida de Bill em Bon Temps, foi muito legal compartilhar com ele este momento tão especial. Acho que depois de mais de 100 anos de vida, saber que você não é o último dos seus, é uma sensação muito gostosa.
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