Sinopse: Matadouro 5, obra-prima do norte-americano Kurt Vonnegut, conta a tentativa de um ex-soldado americano que lutou na Segunda Guerra Mundial e que assistiu ao bombardeio da cidade de Dresden de escrever sobre a experiência da guerra. O personagem por ele criado, Billy Pilgrim, é um americano bem de vida e interiorano que viaja no tempo, para outros planetas, e revisita diversos momentos da sua própria vida - sendo o ponto crucial da sua existência o episódio em que foi feito prisioneiro durante a Segunda Guerra, quando vivenciou o bombardeio da cidade alemã, em que morrerram 135 mil pessoas - o dobro de mortes causadas pela bomba de Hiroshima.
Livro: Matadouro 5
Autor: Kurt Vonnegut
Tradução: Cássia Zanon
Editora: L&PM Pocket
Páginas: 221
É o sexto mês do Desafio Literário e o tema é Viagem no Tempo. Escolhi meio à revelia Matadouro 5, do americano de origem alemã Kurt Vonnegut, que parece ser unanimidade em conceito de qualidade. Ou quase isso, porque eu não fiquei muito entusiasmada com o livro.
Fico até sem jeito de dizer que não gostei, porque todo lugar que paro para ler comentários, só vejo coisas como "obra-prima do autor", autor do best-seller também aplaudido pela crítica literária", "obra consagrada de Kurt Vonnegut"... chega a ser meio intimidante. Como dizer que não gostou de algo que todo mundo parece amar?
Não é que eu não tenha compreendido a história, eu entendi, mas não é o meu estilo de livro.
Matadouro 5 é metalinguístico. O que lemos é na verdade o livro de um escritor criado pelo autor. Até aí tudo bem. Na verdade, até o niilismo que permeia a história é palatável (embora esta desesperança toda contamine). E não posso negar a óbvia propaganda anti-guerra e muito menos criticá-la. Se teve uma coisa na qual Vonnegut foi bem sucedido foi mostrar como a guerra é estúpida e irracional. E o humor negro com o qual ele conta sua história é bem vindo, especialmente diante das verdades cruas que ele expõe.
O que me incomoda é a estrutura do livro. E por estrutura eu não digo o vai e vem do personagem, que hora está na nave alienígena Trafalmadoriana, ora está em meio à Segunda Guerra Mundial, e outras vezes ainda está no seio familiar. É o absurdo das situações vivenciadas e as escolhas dos personagens.
Corrijo-me: a forma como Vonnegut escolhe usar do humor não me agrada. Não sou fã de sátiras, não gosto de comédias e tampouco me identifico com textos malucos, por mais bem escrito que sejam. E Matadouro 5 tem uma prosa brilhante, você enxerga toda a capacidade literária do autor em cada linha, mas ao mesmo tempo é irritante ficar com o livro nas mãos se forçando a prosseguir frase após frase. Não pude me apegar aos personagens e por consequência, não conseguia me interessar pelo que aconteceria a seguir.
Resumindo: ler o livro foi uma tortura. O pior é que era uma meta que eu me auto impus, e não conseguia pensar em outra coisa, ou seja, além de demorar horrores para terminar, nem sequer conseguia pegar outro livro para ler nas horas vagas.
O mais engraçado é que eu cheguei a conclusão de que o livro fica muito melhor depois que você termina a leitura. Como eu disse, o percurso foi quase um parto, mas pensar na história após finalizada e revisitar alguns momentos, é extremamete prazeiroso. É aquela coisa: Matadouro 5 não é vazio, ele tem um conteúdo profundo, uma crítica social consistente e personagens e situações que te fazem pensar de verdade na existência como um todo. Por isso ler pode ser penoso, mas refletir sobre ele não é.
No frigir dos ovos, é um livro que vale a pena, em especial quando você já conseguir terminá-lo.
"As pessoas não devem olhar para trás. Eu certamento não farei mais isso.Já terminei o meu livro de guerra. O próximo que eu escrever será divertido.Este aqui é um fracasso. E tinha de ser, já que foi escrito por uma estátua de sal. Começa assim:Escute:Billy Prilgrim soltou-se no tempo.Termina assim:Piu-piu-piu?"
Não é para mim, gente. "Coisas da Vida".
***
PS: Duas coisas interessantes:
1) O livro foi adaptado para o cinema em 1972. Será que eu acho o filme por aí para ver?
2) Sabe aquela frase que todo mundo conhece e circula em 99% dos facebooks da vida:
"Deus me dê serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que posso mudar e sabedoria para sempre saber a diferença"?
Não, não é criada por Vonnegut, a frase é do teólogo Reinhold Niebuhn, mas tem uma importância que não é pequena em Matadouro 5. Ou, eu deveria dizer, em "A Cruzada das Crianças - Uma Dança com a Morte", livro que conta a história de Billy Pilgrim, escrito pelo personagem de Vonnegut. E não tem frase que fale de forma mais suscinta a mensagem que o livro nos passa. Se eu usasse jóias, poderia até pensar em ter uma corrente de prata com a frase entalhada em um medalhão entre os seios.
Desafio Literário 2012
Minha lista de livros do DL
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4 comentários:
Matadouro 5 é um grande livro. E mesmo que você não tenha se sentido confortável ao lê-lo, fico feliz que você tenha entendido porque ele se tornou o clássico que é. Mesmo. :)
ENtão garota, só pq todo mundo acha que o livro é legal, não significa que todos vão gostar, e se sinta confortável mesmo em dizer que o livro é ruim, tbm enfremtei esse mesmo dilema ao dizer que Amirável Mundo Novo é ruim, mas é um clássico, o que se pode fazer?
Gostei da opinião e de como colocou seu ponto de vista! =D
Pertinente as suas considerações. Terei de lê-las para compará-las às minhas.
É um livro muito bom... e é claro que Kurt Vonnegut só poderia escrever com desesperança. E é bom que contamine. Otimismo exagerado contamina também, e sem fazer sentido algum.
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